A escalação do elenco foi um primor: vindo da frança tivemos Sébastien Guèze. O jovem tenor tem uma voz com timbre interessante, pequena e adequada ao personagem. Exagera nas caretas ao cantar , mas atua com emoção. Esse é um detalhe que não pode escapar, sua atuação junto com sua voz emociona o público. Os conhecedores de ópera podem reclamar de sua técnica, dizer que sua tessitura , seu legatto e sua extensão não são das melhores, eu concordo com eles. Mas o jovem tem a capacidade de ser um grande Nemorino, pela atuação cênica e pela superlativa capacidade de emocionar o público. Isso é mais que suficiente para um grande Nemorino.
Gabriella Pace arrasou como Adina, sua voz esteve maravilhosa. Lírica , jovial e sedutora. Sua atuação cênica impecável mostrou sentimentos de desprezo e paixão quando o libreto exigia. Mostrou grandes qualidades vocais do início ao fim da récita, tudo adequado a personagem. Grande soprano, grande atuação vocal que arrepia a cada nota. Sebastião Teixeira fez um Sargento Belcore engraçado e interessante. Sua voz de barítono tem belos graves e agudos consistentes. Sua atuação cênica mostra todas as trapalhadas e ansiedades do militar que deseja casar o mais rápido possível com Adina. Sua patente é de sargento , mas seu uniforme mostra medalhas e condecorações de general, tudo hilário. Bravo Teixeira! Outro que arrebentou foi Saulo Javan, como Dulcamara foi o mais charlatão dos charlatões. Sua voz tem graves maduros , consegue uma agilidade incrível para um baixo. Voz possante , madura e arrepiante. Atuação soberba, quase derruba o cenário na sua saída do palco com a bicicleta. Excelente Dulcamara.
O programa cedido ao público saiu da mesmice e mostrou informações apresentadas de maneira inusitada e criativa. Dar bem casado , com o nome de Adina e Nemorino , ao público na saída do espetáculo é outra idéia interessante que agrada a todos. Espero que essa produção não se perca e que seja apresentada no decorrer dos próximos anos. A Orquestra do Theatro São Pedro manteve grande qualidade: tempos , volume e sonoridade compatíveis com a ópera de Donizetti. Nas mãos do maestro Emiliano Patarra rendeu apresentou uma sonoridade digna de um grande Donizetti. O coro esteve brilhante, nas suas intervenções mostrou grandes qualidades vocais e ritmos que combinam com a obra. Dia de estréia (geralmente escrevo estréia com acento, a reforma ortográfica que vá às favas) é peculiar, estão presentes cantores , diretores e muitos que escrevem e trabalham no meio. Uma presença em especial me chama a atenção, o diretor do Theatro Municipal de São Paulo , Abel Rocha. Ele assistiu a récita e espero que se inspire em fazer óperas com essa qualidade. Contratar Walter Neiva é uma grande solução. Depois do Rigoletto de 2011 e da La Traviata desse ano a coisa anda meio complicada por lá.
Ali Hassan Ayache
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