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Antônio Gabriel Nássara - Compositor e Caricaturista
* 12/11/1909 - Rio de Janeiro - RJ
+ 11/12/1996 – Rio de Janeiro - RJ
NÁSSARA: NASCIMENTO...
Já vimos acima que ele é carioca da gema nascido do bairro de São Cristovão, há 100 anos. Aos doze anos de idade mudou-se para o bairro de Vila Isabel, na mesma rua onde morava o nosso também centenário Noel Rosa (11/12/1910). Adolescentes, os dois começaram a frequentar lugares de encontro de boêmios e sambistas, como o Ponto de Cem Réis.
NÁSSARA: CEDO DESCOBRIU-SE DESENHISTA...
No final da década de 1920, Nássara foi trabalhar como caricaturista do Jornal O Globo. Percebendo que tinha jeito para o desenho estudou na Escola Nacional de Belas Artes, cursando até o quarto ano. Lá organiza o grupo musical “Turma da ENBA” do qual faziam parte J. Rui, Barata Ribeiro, Manuelito Xavier e Jaci Rosas, vindo à somar-se, depois, o cantor e compositor Luís Barbosa, que não era aluno da escola.
NÁSSARA: AUTOR DO 1º JINGLE DO RÁDIO BRSILEIRO...
As novas gerações talvez nunca tenham parado para pensar que, na década de 1930, o mundo da publicidade não fazia parte da nossa realidade, justamente ao contrário de hoje.
Convidado para o Programa Casé (Ademar Casé, cuja amizade conservou por toda vida) na Rádio Philips, começou como locutor, depois redator de anúncios, época em que criou o primeiro jingle do país, fazendo propaganda da Padaria Bragança com uma musiquinha, em rítmo de fado.
Lá em “Ademar Casé – pioneirismo no Rádio Brasileiro”, tem um textinho antológico de Nássara que salvou Casé de perder um cliente poderoso.
NÁSSARA: CARICATURISTA, DIAGRAMADOR E PAGINADOR...
Atuou nas principais revistas e jornais cariocas: O Globo, A Noite, A Crítica, A Hora, O Radical, A Nação, Careta, O Cruzeiro, Última Hora, O Pasquim, A Jornada – esse último, periódico fundado pelo compositor e jornalista Orestes Barbosa.
Confira alguns trabalhos publicados na revista “O Cruzeiro”.
Publicao originalmente na revista O Cruzeiro, 17/04/1944
Publicado na revista O Cruzeiro, 19/06/1943
Publicado na revista O Cruzeiro, 29/01/1944.
Agora, no semanário O Pasquim
NÁSSARA: COMPOSITOR...
Compôs cerca de 163 músicas só e/ou em parcerias com a nata dos compositores da época, a exemplo de J. Cascata, David Nasser, Roberto Martins, Haroldo Lobo, Dunga, Roberto Roberti, Orestes Barbosa, Wilson Batista, Alberto Ribeiro, Lamartine Babo, Ary Barroso, Mário Lago, Jair Amorim, Hervê Cordovil, Luís Barbosa, Almirante...
Selecionamos dessas algumas pérolas.
“Para o samba entrar no céu” – Nássara em parceria com Almirante e J.Rui, com Almirante e o Bando de Tangarás. Disco Victor (33490), 1931.
“Formosa” – parceria Nássara com J. Rui, com Francisco Alves e Mário Reis. Disco Odeon (10957), 1933.
“Retiro da Saudade” – parceria Nássara e Noel Rosa, com Carmen Miranda, Francisco Alves e Os Diabos de Céu. Disco Victor (33827 A), 1934.
“Florisbela” – Nássara em parceria com Eratóstenes Frazão, com Sílvio Caldas. Disco Victor (34387), 1938.
“Balzaqueana” – Nássara em parceria com Wilson Batista, com Jorge Goulart, acompanhamento da Orquestra Tabajara Severino Araújo. Disco Continental (16145), 1949.
Essa música tem uma historinha curiosa: traduzida para o francês foi lançada na França, por ocasião do centenário de morte de Honoré de Balzac.
Trecho do filme “Tudo Azul”, de 1952, com Jorge Goulart interpretando “Mundo de Zinco”, de Nássara e Wilson Batista.
Fragmento do Programa MPB Especial (16/04/1975) onde Nássara relata um pouco suas experiências na área musical / jornalística e do grande reduto dos artistas que foi o Café Nice e canta “Meu Consolo é Você", feita em parceria com Roberto Martins.
“Alá-Lá-ô" – Nássara em parceria com Haroldo Lobo, na interpretação de Carlos Galhardo. Disco (34697), 1941.
Composta em parceria com Haroldo Lobo para o carnaval de 1941, "Alá-la-ô" imortalizou-se graças a Pixinguinha. É o que conta Nássara neste depoimento a Isabel Lustosa.
Eu tinha ido à RCA Victor e o chefe, Mr. Evans, me disse que era preciso adiantar a gravação do Alá-la-ô. Quem fazia as orquestrações para a RCA, na época, era o Pixinguinha. Levei a partitura para o imortal Pixinguinha, que residia no Catumbi. Sabe como é o Catumbi, ao meio-dia no verão? O sol chega a furar o asfalto. Encontrei o Pixinguinha de cuecas, no piano, suando por todo lado e mostrei-lhe Alá-la-ô juntamente com uma parte, já pronta para ao piano. Apesar de bastante atolado com inúmeros trabalhos, Pixinguinha mandou eu cantar e leu a melodia. Falou-me: Nássara, tudo errado! E rasgou a parte feita para o piano cuja linha melódica não caía perfeitamente. Chamou sua mulher, e disse: Traga papel de música. Escreveu novamente toda a melodia e fez o arranjo que todos conhecem. No dia da gravação eu e Carlos Galhardo ficamos estarrecidos, Pixinguinha tinha dividido a melodia em compassos marcantes, saltitantes, brejeiros, originais, vestindo-a com roupagem da alma popular. E eu tive uma sorte danada porque Alá-la-ô ficou sendo uma das músicas mais tocadas no carnaval. Das que fiz, foi a única música que me rendeu alguma coisa. (Nássara).
Mesa que pertenceu ao Café Nice, reduto da boemia intelectual do Rio de Janeiro, na década de 40. (Acervo do Museu da Imagem e do Som - RJ). Foto tirada pela Equipe de Pesquisadores do Teatro de Revista, em maio de 2010.
Café Nice no traço de Nássara
Em 1972, Nássara foi o responsável pelas 12 capas dos LPs da série "No tempo dos bons tempos", da Phillips/Fontana.
Já havia ilustrado capas de LPs, sendo uma das mais famosas a do também famoso LP "Polêmica", com caricaturas antológicas de Noel Rosa e de Wilson Batista.
NÁSSARA: COMEMORAÇÕES...
O Bloco de Carnaval “Gigantes da Lira” de Laranjeiras, bairro onde Nássara morava (rua Belizário Távora), homenageou este ano o caricaturista e compositor no ano de seu centenário.
Na camiseta do bloco caricaturas de cantores e compositores brasileiros feitos por Nássara bem como títulos de suas inúmeras marchinhas e músicas de Carnaval (como por exemplo Alá-la-ô).
Aconteceu em setembro próximo passado duas exposições com curadoria de Jorge de Salles, em homenagem as comemorações ao centenário de Nássara.
Uma na Galeria Plano B reunindo além de Nássara outros artistas, e outra com a chancela do Espaço Rio Carioca e do Atelier Carioca de Humor, apresentado desenhos originais do mestre da caricatura nacional.
Nássara foi amigo e parceiro do artista Jorge de Salles (foto acima) a quem presenteou com um acervo que, segundo Jorge, gira em torno de 200 desenhos originais.
"Em junho e em outubro de 1996, encontrei no portão de casa um envelope tamanho ofício, com desenhos dele não publicados e uma recomendação de dar uma apresentação gráfica aos melhores e jogar fora o restante. Eram quase 200 originais e, evidentemente, guardei todos comigo", conta Salles.
Exposição NÁSSARA – 100 ANOS
Acontecerá, no período de 15/12/2010 a 06/02/2011, no Centro Cultural da Justiça Federal (RJ) a exposição Nássara – 100 Anos, com curadoria de Jorge Salles e Zé Roberto Graúna. Mais uma oportunidade de divulgação/preservação do seu acervo.
NÁSSARA: LIVROS PUBLICADOS SOBRE SUA VIDA E OBRA
“Nássara – O perfeito fazedor de artes”, de Isabel Lustosa. Editora Relume-Dumara. Coleção Perfis do Rio, 1999.
“Nássara Desenhista”, de Cássio Loredano. FUNARTE, 1985.
No ano de sua morte (1996) Nássara ilustrou o livro infantil “Moça Perfumosa, Rapaz Pimpão, de Daniela Chindler, mas não chegou a ver publicado; morreu antes.
Caricaturando personagens e cenas da vida política/musical, com seu traço preciso e compondo clássicos da Música Popular Brasileira, Nássara, fez história tornando-se um dos maiores “fazedores de artes” do Brasil. No seu Centenário de nascimento merece todas as homenagens. Viva Nássara!!
Dedico este post a todos que lutam pela preservação na memória cultural brasileira e, no caso específico de Nássara, à escritora Isabel Lustosa, ao cartunista Cássio Loredano e ao multifacetado artista Jorge de Salles.
Atualização (12/11/2015)
Uma informação relevante do livro "Nássara Passado a Limpo", de Carlos Didier -uma das raras homenagens ao centenário do caricaturista e compositor Antonio Gabriel Nássara, celebrado em 2010 -, é que este não é o ano do seu centenário.
O equívoco, que o próprio Nássara nunca fez questão de desmentir, foi elucidado por Didier ao levantar em cartório sua certidão de nascimento. Mas já era tarde para comemorar o centenário correto, 12 de novembro de 2009, que passou em branco.
Confira, também:
- Nássara e seus Caros Amigos
- Nássara – Caricaturas Musicais
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Fontes:
- BOTTESELLI, J. C. Pelão e PEREIRA, Arley. A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes. – São Paulo: SESC,vol.6, 2002.
- CABRAL, Sérgio. ABC do Sérgio Cabral: um desfile de craques da MPB. – Rio de Janeiro: Codecri, 1979.
- DINIZ, André. Almanaque do carnaval: a história do carnaval, o que ouvir, o que ler, o que curtir. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
- HISTÓRIA DO SAMBA. Rio de Janeiro: Globo, 1977 – 1978. Quinzenal. 40 fasc. 41 CDs.
- Site ICCA (Instituto Cultural Cravo Albin).
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No blog do Nassif, Evaristo Solimões indagou: Quem foi que disse que Nássara não fazia caricaturas e sim "logotipos" de pessoas?
Respondi:
Evaristo, quem disse que Nássara fazia logotipos de pessoas foi Jaguar, um dos criadores do O Pasquim, onde Nássara brilhou por longos anos. Para classificar assim o desenho de Nássara, acho que Jaguar quis destacar a maior característica do mestre: a concisão, a 'limpeza', a economia de traços. A gente vê aquele desenho simplíssimo, de linhas retas, e logo pensa "é fulano". A caricatura vira a 'marca' do caricaturado, qual logotipo.
Outro fera que exibia um estilo 'logotípico' era o Fortuna, que, por sinal, publicou um livro intitulado 'Diz, logotipo!'. Só que nesse caso eram logotipos meeeesmo, muito bem humorados e mordazes.
Quanto a você, pesquisadora, parabéns pela lembrança de homenagear o grande Nássara.
Beijos.
Gregório, arrasou na resposta.
Beijos.
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