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Marcelo,
Concordo com você quanto ao tratamento que é dado a muitos projetos, no entanto, discordo quanto à ausência de Política Educacional. Por exemplo: o atual governo do Estado de São Paulo possui dez metas para a Educação http://www.saopaulo.sp.gov.br/acoes/educacao/metas/ que, enquanto protocolo de intenções contemplam anseios de muitos de nós. Apenas acho sintomático que seja possível encontrar estas metas no site do governo e não conseguí-las no site da Secretaria de Educação: www.educacao.sp.gov.br, tendo vista que, sendo metas para a educação, deveriam permear o cotidiano de toda a estrutura de gestão da educação.
Para quem acompanha esta questão mais de perto observa que as ações da atual gestão caminham em sintonia com tais metas e confesso que considero um grande avanço, principalmente quando comparamos com gestões anteriores. Mas, sendo assim, onde está o problema? Entendo que pelo menos dois fatores merecem reflexão:
Primeiro: A forma como as ações são implementadas, ou seja, sem nenhum ou muito pouco esforço para angariar alianças com os efetivos operadores, no caso, os Profissionais de Educação.
As coisas são implementadas de cima para baixo sem que haja tempo de quebrar resistências naturais, viabilizar a incorporação dos princípios e compartilhar os desafios que se colocam. Alguns dirão que isso é típico de gestão tucana, no entanto, confesso que já vi este mesmo filme em gestão petista onde iluminados costumavam “tratorar” obstáculos para implementação daquilo que consideravam adequado.
Acho que este fator somente poderá ser superado quando formos capazes de compreender o problema da Educação como um problema de Estado e não apenas tópicos de Programas de Governo.
Segundo: Entendo que precisamos transcender os objetivos quantitativos da educação.
Neste tópico, não apenas em razão das pressões estatísticas de organismos internacionais, mas também (e é uma pena que na maioria das vezes desconsideramos isso), por força de nossa da Constituição, do nosso avançadíssimo Estatuto da Criança e do Adolescente e da própria LDB – Lei de diretrizes e bases da educação, avançamos muito e não é permitido à sociedade brasileira retroceder.
Do ponto de vista quantitativo, a universalização do acesso à escola é, e deve continuar sendo meta viável e fundamental, porém, é passada a hora de encararmos os desafios qualitativos e, neste aspecto, não percebo adequado o discurso da universalização. Em uma estrutura ampla e complexa como a nossa, a universalização qualitativa é falaciosa e tem como tendência natural a nivelação por baixo.
Neste sentido, considero que as propostas corajosamente apresentadas pelo João Vergílio Gallerani Cuter (“...Criação de um sistema duplo de ensino. Um, voltado para os alunos mais talentosos, com escolas-modelo de altíssimo nível”) não são de todo desprezíveis.
Confesso que sou de um tempo em que havia excelentes escolas públicas em um sistema que, embora houvesse um padrão muito superior ao atual, não poderia ser considerado homogêneo. Com o desafio da universalização, o que fizemos: eliminamos a seletividade, a autonomia das escolas e nivelamos todas por baixo. Hoje tocar na questão da seleção para ingresso na Escola Pública é pedir para ser rotulado de fascista, reacionário etc.. Há argumentos contrários de natureza legalista, pedagógicos, dogmáticos etc.. Ninguém assume a realidade de que não se propondo assegurar uma viável educação pública de excelência para um número possível, o Estado tende a não viabilizar para ninguém. O impressionante é que quando falamos em Ensino Superior o discurso e a realidade são completamente diferentes (mas essa é uma outra questão !).
Para não ficar apenas no discurso; apresento algumas propostas:
1. Assegurar a universalização do acesso ao ensino básico (como a sociedade brasileira tem feito);
2. Implementação e aprimoramento de mecanismos de avaliação de resultados (internos e principalmente externos);
3. Gradativa atribuição de autonomia administrativa e pedagógica (inclusive com a possibilidade de utilização de instrumentos públicos de seleção de alunos, composição do quadro de docentes e demais profissionais de educação) às escolas (inicialmente de Ensino Médio) que atinjam reconhecidos parâmetros de qualidade.
Marcelo Luiz said:Grande problema das fórmulas atuais é que os governos não têm uma política educacional, por isso lançam um projeto, fazem festa e depois o esquecem na gaveta, como foi o caso da nova política educacional instituída pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação).
Por termos essa doença na administração pública, ficamos discutindo a muito se é válido ou não um mecanismo isolado do todo, seja a aprovação automática ou as metas e remuneração por desempenho.
Os mecanismos não são ruins, não, por que funcionam em qualquer lugar que tenha uma política educacional e essas ferramentas sejam coerentes com essa estratégia.
Fica claro esse ponto de vista, só de ler todos os textos enviados pelos leitores desse espaço, mesmo no blog, ninguém colocou nenhum ponto da política de educação paulista, mesmo quem tentou defender, ficou claro que a política era o mecanismo.
Por isso, desde o enterro da escola padrão não temos nessa área como ser contra a uma política pública do governo paulista, afinal não se pode ser contra o que não existe, as colocações principalmente de quem trabalha na rede pública são claras, são “gritos” pedindo que o governo saia das trevas e tenha coragem de fazer política até para ser criticado.
Eu como cidadão diferentemente fico estarrecido, afinal os números são claros, pelo mesmo porcentual de São Paulo, nós temos resultados infimamente piores que todos os sistemas educacionais em termos de qualidade do mundo, mas aí está impropriedade não podemos colocar São Paulo com outros países, só Estados Brasileiros, afinal no exterior existem políticais educacionais.
Concluindo: Sem política educacional é quase impossível o Estado de São Paulo recuperar-se em termos de qualidade, esperamos agora que saiu a política de RH para profissão, começe algo mais substâncial, pensando no todo, e não apenas em paleativos.
Prezado Edson,
Concordo com você que é necessário avançar no sentido de ir além dos objetivos quantitativos em educação. Contudo, penso que é uma temeridade a proposta formulada pelo João Virgílio e encampada por você: a criação de um sistema duplo de ensino. Isso já existiu no passado. Era o modelo europeu, que o Brasil copiou. Na Europa ele foi abandonado, após a 1ª Guerra, em favor de um sistema único. Aqui no Brasil, em termos normativos, o sistema foi extinto em 1971. Havia a escola elementar/primária, de curta duração (em geral 4 anos), que deveria ser frequentada por todos (mas aqui no Brasil essa democratização do acesso nunca aconteceu) e, a escola secundária, altamente seletiva, mais extensa (em geral 7 anos divididos em dois ciclos - aqui no Brasil, o antigo ginásio, de 4 anos, e o colegial com 3). A introdução de um sistema único se deu pela ampliação do ensino primário, redução do ensino secudário e fim da seleção para o ingresso no mesmo (aqui no Brasil, tinhamos o famoso exame de admissão ao ginásio).
Esse era o sistema de excelência que existia no passado.
Qual era o problema dele afinal? O fato de que, no mundo todo, o acesso à antiga escola secundária se dava muito mais em função do pertencimento a determinados segmentos de classe social do que pelo talento propriamente dito. As escolas secundárias eram escolas da elite. As crianças pobres dificilmente eram aprovadas nos exames para ingresso nessas escolas. Para elas, restava o caminho do mundo do trabalh
E a partir de 11 anos só havia ou colégios particulares, ou as tais "escolas de excelência" (Pedro II, Colégio Militar, Instituto de Educação, Colégios de Aplicação) para a classe média. É isso que querem de volta em nome da excelência? Paulo Celso Gonçalves said:
Prezado Edson,
Era o modelo europeu, que o Brasil copiou. Na Europa ele foi abandonado, após a 1ª Guerra, em favor de um sistema único. Aqui no Brasil, em termos normativos, o sistema foi extinto em 1971. Havia a escola elementar/primária, de curta duração (em geral 4 anos), que deveria ser frequentada por todos (mas aqui no Brasil essa democratização do acesso nunca aconteceu) e, a escola secundária, altamente seletiva, mais extensa (em geral 7 anos divididos em dois ciclos - aqui no Brasil, o antigo ginásio, de 4 anos, e o colegial com 3). A introdução de um sistema único se deu pela ampliação do ensino primário, redução do ensino secudário e fim da seleção para o ingresso no mesmo (aqui no Brasil, tinhamos o famoso exame de admissão ao ginásio).
Esse era o sistema de excelência que existia no passado.
Anarquista Lúcida e Paulo Celso,
Gostaria de deixar claro que não estou propondo a volta do modelo extinto em 1971. Meu posicionamento é de manutenção dos esforços pela universalização da educação básica (acesso ao ensino fundamental e ensino médio para todos!).
De fato, antes a escola pública de qualidade atendia quase que exclusivamente a classe média. O que o sistema fez? Nivelou por baixo e afastou (para não dizer expulsou) a classe média dentro da lógica de que educação de qualidade é produto. Hoje a classe média sacrifica-se para pagar escolas, planos de saúde e, em muitos casos, até o vigia da rua. Acho isso natural, as pessoas procuram meios de se defender da ineficácia do Estado. Qual o professor que podendo pagar escola para os filhos os mantém na escola pública? A classe média mesmo suportando uma brutal carga tributária não possui efetiva contra-partida do Estado. Creio que a retomada da qualidade dos serviços públicos dependem em muito da possibilidade de reinclusão da classe média. No fundo vejo uma grande injustiça nisso tudo: se a classe média paga impostos, especialmente a assalariada, que tem o pagamento de seu imposto realizado diretamente na fonte, porque o sistema não pode contemplá-la? Porque não pode haver escolas públicas de qualidade reconhecida, com autonomia administrativa e pedagógica, cujo acesso seja permitido a todos (incluindo os oriundos da classe média) por meio de instrumentos públicos de seleção?
Mas tudo bem. Acho que vou continuar sozinho nesta forma de pensar.
O Paulo Celso fez uma brilhante indagação: “é necessário pensar sobre os limites que as políticas de educação e as escolas possuem para resolver os problemas sociais. Será que não estamos cobrando das escolas e dos sistemas de ensino algo que eles, isoladamente não podem fazer?” Pois é Paulo é chegada a hora de pensar a educação de forma transversal, mas sem desconsiderar que há um risco ai: o de se desviar recursos da Educação para outras áreas em nome da transversalidade.
Anarquista Lúcida said:E a partir de 11 anos só havia ou colégios particulares, ou as tais "escolas de excelência" (Pedro II, Colégio Militar, Instituto de Educação, Colégios de Aplicação) para a classe média. É isso que querem de volta em nome da excelência? Paulo Celso Gonçalves said:Prezado Edson,
Era o modelo europeu, que o Brasil copiou. Na Europa ele foi abandonado, após a 1ª Guerra, em favor de um sistema único. Aqui no Brasil, em termos normativos, o sistema foi extinto em 1971. Havia a escola elementar/primária, de curta duração (em geral 4 anos), que deveria ser frequentada por todos (mas aqui no Brasil essa democratização do acesso nunca aconteceu) e, a escola secundária, altamente seletiva, mais extensa (em geral 7 anos divididos em dois ciclos - aqui no Brasil, o antigo ginásio, de 4 anos, e o colegial com 3). A introdução de um sistema único se deu pela ampliação do ensino primário, redução do ensino secudário e fim da seleção para o ingresso no mesmo (aqui no Brasil, tinhamos o famoso exame de admissão ao ginásio).
Esse era o sistema de excelência que existia no passado.
A universalização do acesso ao ensino cobra o seu preço. Em sociedades desiguais como a nossa, o preço me parece que é justamente esse. Talvez esteja aí um dos pontos centrais do problema. Nós estamos querendo fazer com que meninos e meninas que se encontram na mais absoluta miséria se integrem em nosso mundo letrado fazendo-os passar 800 horas por ano dentro de uma instituição. Por isso o meu questionamento: será que não estamos exigindo algo que a escola sozinha não é capaz de fazer?
Para todos nós está presente a idéia de integrar essas crianças e adolescentes nosso sistema de saberes e valores. Mas muitos deles são impedidos de ir onde nós vamos. São discriminados em nossos ambientes. São colocados sob vigilância se resolvem circular em nossos ambientes. Perdoem-me se estou carregando nas tintas, mas essa é a realidade.
Lembro-me, agora, de quando fui ao cinema assistir o filme Cidade baixa. A sensação mais marcante foi, justamente, quando saí da sala de projeção e me vi dentro de um shopping center. Depois de passear, no filme, por aquelas paredes sujas, os ambientes degradados e miseráveis, no meio das pessoas que estão à margem da sociedade, me vi naquele cenário plástico, asséptico, colorido, com pessoas coradas e decentemente trajadas (que horror!).
Esse estranhamento talvez seja o sentimento que está presente na relação de muitos alunos da escola pública com mundo para o qual a escola procura (ou deveria procurar) levá-los. Eu penso que as escolas e professores não conseguem fazer isso. Não estou querendo dizer, aqui, que essas crianças devem ser mantidas nessa situação. O que eu quero dizer é que a escola tem um alcance limitado na transformação da vida dessas crianças. São necessárias outras ações, outras políticas públicas que complementem a escola.
Lá nas décadas de 1920 e 1930 alguns intelectuais brasileiros já propunham a escola única (vide o famoso documento Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932) na intenção de integrar a nação por meio da escola. Uma escola aberta a todos, de todos os segmentos sociais, que fosse o meio para acabar com a desigualdade social. Infelizmente, até hoje, isso não aconteceu (ou aconteceu de modo ainda muito limitado).
Penso que a integração, se aconteceu no Brasil, foi pela via da difusão de certos valores da sociedade de consumo e foi feito muito mais pela mídia, em especial, pela TV aberta.
A ironia está no fato de que não temos uma escola em que sentam lado a lado crianças de todas as origens sociais para compartilhar os mesmos saberes e valores, mas temos programas de TV que conseguem reunir audiências de todas as classes sociais. Enfim, as crianças vão para escolas separadas e mantém-se um fosso entre a cultura letrada e do povo em geral, de outro lado, todos os brasileiros acabam envolvidos (mesmo que indiretamente) com debates como o das últimas semanas a cerca da identidade da assassina num determinado folhetim televisivo.
Edson,
Quanto à menção de que a classe média paga impostos e, supostamente, não recebe a devida contrapartida do Estado (na medida que, no caso, não matricula seus filhos na escola pública), penso que não podemos tomar como referência as relações comerciais quando estamos no campo definido por tributos e as políticas públicas.
A escola não tem de ser melhor para a classe média matricular os seus filhos. A escola tem de ter qualidade porque essa é uma exigência que está (ou pelo menos deve estar) colocada pela sociedade.
Não é a classe média que tem que receber a contrapartida dos impostos que paga. Num país como o Brasil, o dinheiro tem que ir todo para a superação das desigualdades. A classe média que se lixe. Pague os seus impostos direitinho, e pague também a escola dos seus filhos. Entrando na escola pública, que paguem bem caro para estudar nela. Escola de graça é para quem precisa.
Sobre a utilidade da aplicação do raciocínio do tipo "ceteris paribus", na qual Decisões macroeconômicas, mesmo quando desejáveis, podem ter um custo inicial imprevisível. , apenas comento o que os estudantes da escola de economia de Paris já disseram acerca da economia neoliberal: Uma Ciencia Autista.
Isso inclui também a turma do ceteris paribus...
A quem interessar possa, verifiquem em: http://www.paecon.net/
Não acredito que essa discussão está indo para esse abismo conceitual...nem mesmo os economistas mais "cabeça de planilha" abraçam esse discurso...
francamente...
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