Tags:
Maria Dirce e Salazar,
Sou plenamente favorável, é claro, a que os professores recebam a melhor formação possível. Nada contra aulas de sociologia e filosofia nos currículos, como matérias adicionais. O ideal, aliás, seria que todo estudante universitário fosse obrigado a eleger alguma matéria fora de seu currículo, dada em outra unidade. Se gostar de filosofia, que vá estudar filosofia direitinho, na faculdade correspondente, e não fazer mais um desses cursinhos generalistas em que na primeira aula se lê o Mito da Caverna de Platão como se fosse um texto de auto-ajuda, e na segunda aula já se passa aos parágrafos iniciais do Discurso do Método com uma leveza de fazer inveja às bailarinas do Bolshoi. Se é para estudar filosofia, que se estude direito. Eu, se fosse optar, acho que escolheria um bom curso de introdução à astronomia. Por que as pessoas pensam que a filosofia pode operar milagres?
Mas o problema aqui é outro. Mais uma vez, estamos nos esquecendo de que é preciso primeiro fazer direitinho o bolo, antes de lhe metermos as cerejas por cima. Precisamos, primeiro, estruturar direitinho o núcleo central dos cursos de formação de professores, dando maior objetividade ao currículo. Os cursos devem ter um sentido prático. Ensinar técnicas pedagógicas específicas. Quem vai dar aulas de matemática tem que dominar certas técnicas de ensino. Quem vai dar aulas de história tem que dominar outras. E muito estágio. Muito. Com supervisão efetiva, e participação efetiva nas atividades de classe.
Quando tivermos estruturado os cursos de licenciatura dessa forma, podemos até pensar em inserir aulas de filosofia no currículo. Mas, aí, que seja filosofia de verdade. Um semestre inteiro lendo um diálogo simples de Platão, por exemplo, com comentadores, e tudo mais. Três páginas por semana, no máximo, tentando entender cada palavrinha que está escrita no papel. Nada de textinhos soltos, nem de aulas meia-boca, que só rendem papinho de bar, e nada mais.
Temos que pôr os pés no chão, e começar a pensar em soluções efetivas. Práticas. Que mudem o Brasil. É disso que se trata.
Sandra,
Há coisas que é necessário descentralizar. A formatação dos cursos técnicos, por exemplo, que passa pelas vocações econômicas regionais. Agora, no núcleo comum, dadas as condições atuais, descentralização significa apenas dispersão de recursos escassos. Veja o caso da Finlândia, que é sempre tomada como exemplo. A maior parte dos professores tem mestrado (bons mestrados, e não esse faz-de-conta que se espalhou como uma praga pelas particulares), todos os alunos têm condições de comprar os livros didáticos indicados pelo professor, as escolas são equipadíssimas, o contorno social do estudante é riquíssimo. Aí, você pode descentralizar. No Brasil é simplesmente uma loucura, Sandra. Considere o patamar de que estamos partindo. Precisamos oferecer cursos de reciclagem a um enorme contingente de professores num país pobre e de dimensões continentais. Imagine que todos utilizassem o mesmo material didático, e tivessem que seguir um mesmo programa de ensino. Você faz a reciclagem à distância de forma muito mais objetiva, eficiente. Os resultados aparecem logo na aula seguinte. Por que insistir numa idéia só pela sonoridade simpática que ela adquiriu? Na prática, ela não funciona.
A idéia dos ciclos trimestrais permite corrigir a rota do aluno antes que ele quebre a cara contra a parede no final do ano. É a progressão continuada, só que inscrita no interior do ano letivo, e não espraiada por um ciclo de quatro anos, quando já é tarde demais para se fazer qualquer coisa. Com ciclos trimestrais, a luz vermelha acende quando ainda há tempo de se apagar o incêndio, e a recuperação, durante o mês de férias, pode ser efetiva.
É claro que não se trata de selecionar crianças de seis anos com teste de QI. Os testes para ingresso teriam que ser feitos após os quatro primeiros anos de estudo. Corresponderiam mais ou menos aos antigos "exames de admissão" ao ginásio. Você não tem idade para se lembrar disso. Paravam a cidade toda. O Colégio do Estado de Sorocaba abria duas classes de trinta alunos cada uma, e todos concorriam. Temos que parar com essa aversão à idéia de seleção, Sandra. VAI HAVER SELEÇÃO, quer você e eu queiramos, quer não. O sistema atual exlui jovens pobres dos melhores cursos nas melhores universidades do país. Depois de fazer o estrago, damos umas "quotas" de brinde, para que os pobres possam fazer um curso de Serviço Social no Cafundó do Judas. Minha idéia é identificar os talentos precocemente e lhes dar todo o apoio necessário para que brilhem no futuro. O que há de tão errado nisso?
Abraço.
João
Sandra,
Há coisas que é necessário descentralizar. A formatação dos cursos técnicos, por exemplo, que passa pelas vocações econômicas regionais. Agora, no núcleo comum, dadas as condições atuais, descentralização significa apenas dispersão de recursos escassos. Veja o caso da Finlândia, que é sempre tomada como exemplo. A maior parte dos professores tem mestrado (bons mestrados, e não esse faz-de-conta que se espalhou como uma praga pelas particulares), todos os alunos têm condições de comprar os livros didáticos indicados pelo professor, as escolas são equipadíssimas, o contorno social do estudante é riquíssimo. Aí, você pode descentralizar. No Brasil é simplesmente uma loucura, Sandra. Considere o patamar de que estamos partindo. Precisamos oferecer cursos de reciclagem a um enorme contingente de professores num país pobre e de dimensões continentais. Imagine que todos utilizassem o mesmo material didático, e tivessem que seguir um mesmo programa de ensino. Você faz a reciclagem à distância de forma muito mais objetiva, eficiente. Os resultados aparecem logo na aula seguinte. Por que insistir numa idéia só pela sonoridade simpática que ela adquiriu? Na prática, ela não funciona.
A idéia dos ciclos trimestrais permite corrigir a rota do aluno antes que ele quebre a cara contra a parede no final do ano. É a progressão continuada, só que inscrita no interior do ano letivo, e não espraiada por um ciclo de quatro anos, quando já é tarde demais para se fazer qualquer coisa. Com ciclos trimestrais, a luz vermelha acende quando ainda há tempo de se apagar o incêndio, e a recuperação, durante o mês de férias, pode ser efetiva.
É claro que não se trata de selecionar crianças de seis anos com teste de QI. Os testes para ingresso teriam que ser feitos após os quatro primeiros anos de estudo. Corresponderiam mais ou menos aos antigos "exames de admissão" ao ginásio. Você não tem idade para se lembrar disso. Paravam a cidade toda. O Colégio do Estado de Sorocaba abria duas classes de trinta alunos cada uma, e todos concorriam. Temos que parar com essa aversão à idéia de seleção, Sandra. VAI HAVER SELEÇÃO, quer você e eu queiramos, quer não. O sistema atual exlui jovens pobres dos melhores cursos nas melhores universidades do país. Depois de fazer o estrago, damos umas "quotas" de brinde, para que os pobres possam fazer um curso de Serviço Social no Cafundó do Judas. Minha idéia é identificar os talentos precocemente e lhes dar todo o apoio necessário para que brilhem no futuro. O que há de tão errado nisso?
Abraço.
João
Anarquista,
Ninguém está propondo que os professores deixem de pensar e de compreender aquilo que fazem, até porque isso seria impossível. Seres humanos estão condenados a pensar e a tentar compreender aquilo que fazem. Foi assim que ganhamos a luta evolutiva há muitos milênios. O que estou propondo é apenas que tenhamos a possibilidade de racionalizar ao máximo o trabalho de reciclagem e de suporte aos professores. Que seja possível, por exemplo, ter uma mesma equipe de suporte dando assistência a professores que estão em pontos diferentes do território. E que esse suporte seja efetivo, pontual. Que resolva problemas concretos, do dia-a-dia, e não se perca em generalidades. Você já viu o quanto o Governo Federal despeja de dinheiro anualmente nas editoras? É um absurdo que isso aconteça num país pobre como o nosso. Seria muito mais racional termos um material único, com a chancela do Governo Federal, distribuído gratuitamente em todo o país. O feed-back dos professores da rede iria permitindo que, aos poucos, esse material fosse ficando cada vez melhor, mais bem elaborado. Cada vez que vocês levantam a bandeira da descentralização, o Victor Civita dá um pulinho de contentamento. Chega de dar dinheiro de bandeja para essa turma, poxa.
Assim, disponibilizando na rede, tudo bem. O importante é acabar a farra atual e introduzir a possibilidade de acompanhamento online em escala nacional.
Quanto à questão das escolas-modelo, eu não estou propondo a volta ao modelo do antigo ginásio. Só citei como exemplo, para evidenciar que exames desse tipo são perfeitamente possíveis. O exame seria restrito a alunos da rede pública. A classe média que pague bons colégios para seus filhos e impostos para o Governo fazer a redistribuição.
Hoje em dia, TODOS os alunos carentes são selecionados para serem peões. A seleção vai haver, de uma forma ou de outra. O vestibular serve para isso, mesmo. O problema é como equilibrarmos um pouco mais o jogo, criando mecanismos de mobilidade efetivos para quem nasce na favela.
Anarquista, sua visão do assunto é muito semelhante à minha. Devo dizer que é muito bom ver alguém com posições parecidas.
Levamos para as salas de aulas muito daquilo que somos, muito de nossa formação básica.
Posso estar muito enganado em minhas convicções mas penso uma educação mais humana e menos técnica. Penso na valorização do indivíduo, respeitando suas fragilidades e enaltecendo suas qualidades. Professores com humildade suficiente para entender que aquele aluno com deficiências merece toda atenção para que ele venha a se integrar com os mais avançados.
Tenho 15 anos de sala de aula no ensino técnico e nunca recebí uma avaliação negativa de meus alunos.
Motivos?
1- Humildade para entender que devo ajudar os alunos a superarem suas deficiências mediante uma escalada rumo ao alto de sua auto-estima.
2-Empatia para ver nesse aluno aquele que fui um dia e que teve suas deficiência também.
3- "Seduzir" o aluno com as práticas referentes aos conteúdos teóricos.
4- Capacidade de mostrar ao aluno as aplicações do aprendizado em seu dia-a-dia.
Não sou dono fluência textual da maioria dos comentaristas, principalmente devido à minha principal característica que é a simplicidade ao me expressar. Tenho idéias para aplicação em educação. Talvez não as saiba expressar de forma erudita o suficiente para agradar pessoas que destinam verbas, mas continuo achando que a integração de tecnologias multimídia, professores e alunos poderia gerar um crescimento pessoal e institucional muito grande.
Mas, ja tentei aprovar meu humilde projeto em várias instituições e nunca consegui.
Para encerrar eu acredito que o professor deve ser valorizado em todos os sentidos para que o aluno possa ser igualmente valorizado.
Há 15 anos vejo os alunos receberem melhores salários que seus professores com poucos anos de trabalho.
Em minha opinião bônus é um band-aid para curar fratura exposta. E é um bônus, jamais será um salário ou fará parte do mesmo. Suas futuras aposentadorias que o digam.
Pedro Salazar said:Reincorporação de disciplinas Humanísticas, pelo menos, no currículo dos professores (filosofia e sociologia, por exemplos)
Uma pecinha de teatro com o 'mito' do oráculo de apolo proclamando quem era o mais sábio da grécia; o raciocínio de Socrates decorrente da honestidade intelectual em conflito com a crença no oráculo; sua decisão "Sei que nada sei" e uns diálogos encenados tendo a estrutura da maiêutica embutida.
O problema: a idade ideal para o ingresso na disciplina.
OBS: Todas as minhas considerações são voltadas para o ensino médio. Deixo a outros mais capacitados a discussão do nível superior.
João Vergílio Gallerani Cuter said:Tudo bem, Salazar... Mas não vamos nos esquecer do principal: o feijão com arroz. Sem desenvolver habilidades básicas de leitura, pôr um aluno diante de um texto de Platão seria tão contraproducente quanto pôr um iniciante diante de uma partitura que esteja acima de suas capacidades e dizer - "Não importa que pareça difícil. Vá tentando, que você consegue." É um método que só funciona com gênios. Com pessoas normais, como eu e você, é um desastre. Melhor fazer o aluno treinar algumas escalas antes.
© 2022 Criado por Luis Nassif.
Ativado por