Para discussão, mas já com minha opinião...
Muito tem se falado a respeito do direito de processos contra agentes da repressão na ditadura brasileira, mas nem sempre com a devida profundidade.
Os mais temerosos acham que isso pode causar um tremor Institucional.
A esses pergunto quando vamos acreditar que nossa democracia é suficientemente adulta para enfrentar questões delicadas como essa, e se vamos sempre, frente a algo semelhante, empurrar a sujeira para baixo do tapete e/ou agir como avestruzes.....
Para mim, já somos democraticamente adultos.
Discordo das pessoas que falam que a anistia zerou tudo. Vai o link da lei 6.683, promulgada em 1979, que aniversaria em 28 próximo:
http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1979/6683.htm
Reparem, já no artigo 1, que ela não foi ampla, geral e irrestrita:
2º Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, seqüestro e atentado pessoal.
Percebam que esse tópico poderia também levar à prisão pessoas da esquerda, outro argumento usado à exaustão contra a responsabilização dos agentes do Estado, mas...
Vejam o que escreve o Paulo Moreira Leite em seu blog:
http://paulomoreiraleite.com.br/colunaepoca/
"Os militantes de esquerda puderam ser anistiados porque haviam sido presos, julgados e condenados pelos tribunais militares. Mesmo aqueles que não foram presos acabaram julgados à revelia. Só por essa razão é que tiveram direito ao perdão da anistia. Já os presos condenados por atos definidos como “terrorismo” foram excluídos da anistia e cumpriram pena até o final — ou conseguiram redução de sua condenação.
O caso dos oficiais ligados ao aparelho de segurança é outro. Eles não foram presos nem julgados nem condenados. Receberam anistia sem ter sido julgados nem condenados. Por isso é que muitas pessoas dizem que se beneficiaram de uma auto-anistia. Eles não cumpriram pena alguma."
Discordo ampla, geral e irrestritamente dos que vão contra o direito dos parentes de desaparecidos políticos e pessoas que foram torturadas pelo regime, de responsabilizarem as pessoas que cometeram o delito.
Uma porque são crimes que NÃO prescrevem pelo Direito Internacional -por serem crimes de lesa humanidade (e se tiver algum erro aqui, peço ajuda ao Aton e Nicole).
Outra porque, para mim, passa uma sensação de impunidade total com algo tão torpe como a tortura, um tremendo desrespeito com quem sofreu ou teve parentes/amigos que a sofreram , e - apenas aparentemente de forma paradoxal - às próprias Forças Armadas, amplamente tomadas nesse caso - com a impunidade - com a injusta fórmula: a parte pelo todo.
Não fossem a tortura e assassinatos de cidadãos sob a guarda do Estado - ainda que de exceção - crimes contra a humanidade, não teria sido possível prender nazistas tantos anos depois, assim como o próprio Pinochet.
Diz o Direito Internacional (segundo Gabriel Cavallo, juiz argentino):
Um crime contra a humanidade é regido por 3 preceitos:
- autorizado por posições oficiais de poder.
- praticado e motivado por questões políticas, religiosas
ou raciais.
- tem que ser sistemático contra uma determinada parte da população civil.
Se a Argentina e Chile, tem conseguido mudar essa história sem abalos Institucionais, o que tememos?
Sou a favor da abertura dos arquivos- da repressão e dos grupos de esquerda- e da responsabilização dos torturadores.
Não por vingança, mas porque acredito que apenas encarando a nossa própria história, com seus horrores e suas glórias, construíremos um País melhor.
É a tentativa que pode ser feita para que a história não se repita.
Em NENHUM espectro político.
Gostaria de tratar aqui apenas dessa parte do tema, não apelando para as indenizações em dinheiro -algumas bastante vergonhosas a meu ver- nem tão pouco tergiversando sobre os escandalosamente criminosos regimes de esquerda do mundo- que, merecem ser assunto para outros tópicos.
Enfim, vale ou não a pena para o País?