O Ibama
concedeu quarta-feira o licenciamento ambiental prévio à usina nuclear Angra 3, não sem antes condicionar a obra a 65 exigências - de cuidar de parques a obras de saneamento básico e solução definitiva para o armazenamento do
lixo nuclear. Dá pra se ter uma idéia do pepino ambiental que Angra 3 representa só pela gigantesca lista de compensações ambientais. Mesmo que todas sejam atendidas - e não serão -, nada justifica a construção da usina.
Energeticamente o Brasil tem imenso potencial hídrico, solar e eólico a ser explorado. Só os ventos do Nordeste
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oferecem 75 gigawatts de energia ao país. O que me leva a fazer uma continha básica: levando-se em conta que Angra 3 tem potencial para 1.350 megawatts (1 gigawatt = 1.000 megawatts, só pra constar) e custo estimado de R$ 8 bilhões para ser construída, seriam necessárias 56 usinas iguais à ela, ao incrível preço de R$ 450 bilhões, para gerar esse mesmo total de energia com reatores nucleares. E ainda têm a cara-de-pau de dizer que as fontes renováveis de energia são caras…
E nessa conta aí não estou incluido o alto custo de descomissionamento das usinas nucleares, ou seja, o dinheiro que se gasta para desligar, desmontar e descontaminar as usinas e seus equipamentos ao final de sua vida útil, que é em média de 50 anos (aqui e em todo o mundo), além de armazenar adequadamente o lixo nuclear de baixa, média e alta radioatividade - o que nenhum país do mundo ainda conseguir saber como fazer. Estima-se que na França, país tido como modelo para os defensores da energia nuclear, esse custo possa chegar a US$ 90 bilhões!
Existem hoje no planeta 440 usinas nuclears, boa parte nos EUA e França. Dezenas delas serão fechadas em no máximo 10 anos. Dá pra se ter uma idéia do que isso vai custar, não? E, pasmén: esse dinheirama toda nunca é incluída na conta do que se gasta numa usina nuclear. E sabe quem paga a conta? eu, vc, todo mundo, porque a indústria nuclear é subsidiada pelos governos.
É aí que entra o X da questão: por que os governos subsidiam tanto a indústria nuclear, que é cara pra cacete e altamente perigosa? Por questões militares. A mesma tecnologia nuclear que gera energia, gera a bomba. Países que mais têm usinas são também os que mais investem em arsenal atômico - França, EUA, Rússia. No Brasil, o setor nuclear também está intimamente ligado aos militares. O presidente da Eletronuclear é o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, aquele mesmo que tocava um programa nuclear militar paralelo na década de 1990 e queria testar um artefato nuclear na Serra do Cachimbo, no Pará.
Aí vem o outro e diz: “Ah, mas seria preciso rasgar a Constituição brasileira para o Brasil desenvolver armas nucleares, porque a Carta Magna diz que o programa nuclear brasileiro tem que ser pacífico.” Ora, não é preciso rasgar a Constituição, basta reformá-la, como tantas vezes se fez. E há gente da pesada que defende não só isso como também a
saída do Brasil do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, como fizeram a Índia e o Paquistão, por exemplo. Gente como o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, general Benedito Leonel, e o secretário-geral do Itamaray, Samuel Pinheiro Guimarães.
Em seu livro Desafios do Brasil na Era dos Gigantes (editora Contraponto, 2006), o embaixador Guimarães
é claro: “A nação deveria se engajar na eliminação da vulnerabilidade militar que decorre da adesão do Brasil, em situação de inferioridade, a acordos de não-proliferação de armas de destruição em massa.”
E teria o Brasil razões para tamanha loucura? Geopoliticamente, sim. O país anunciou recentemente a
descoberta de mega-campos de petróleo e, na seqüência, os Estados Unidos
anunciaram a recriação da
Quarta Frota Naval, para atuar no Atlântico Sul. Uma coisa puxa a outra e há setores militares no Brasil considerando que o país tem que estar pronto para o que der e vier. Lá vem bomba.