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eu cito uma entrevista de Anisio Teixeira, em 1958, verá que defendo uma escola, quer seja pública, quer seja privada, autônoma em face do Govêrno e subordinada antes à Sociedade que ao Estado. Na realidade, dirigida pelo magistério, compreendido como uma das profissões chamadas liberais. Quem dirigiria a educação em todos os setores seria o professor, como quem dirige a medicina é o médico. Até a altura de 1930 estávamos mais ou menos satisfeitos com a situação educacional: as escolas pareciam suficientes às necessidades do Brasil. Por quê? Porque a estrutura da sociedade, a nossa antiga e tradicional estrutura, era dual, bifurcava a sociedade em uma grande massa de ignorantes e uma elite letrada e ilustre, destinada esta às funções de govêrno.
Os ignorantes continuavam ignorantes, e a pequena elite de qualquer modo se renovava com os recursos do escasso sistema escolar, sòmente a ela destinado...
O povo brasileiro busca nas escolas uma ilustração absolutamente ineficaz nos dias de hoje. Nem as escolas primárias ministram ensino pròpriamente útil. Reduzem-se, como antigamente, a preparar os alunos para entrarem no ginásio, e êstes a prepará-los para o colégio, que, por sua vez, os prepara para o ingresso no ensino superior"
É que a educação, continuando, apesar de expandida, a ser uma educação de elite, só se completa com a escola superior. É necessário mudar tudo isso. É necessário que a escola primária se faça uma escola útil por si mesma. E o mesmo se dê com a escola média. Uma e outra escola devem habilitar o aluno, acima de tudo, a trabalhar e a ganhar a vida.
Sem essa perspectiva da vocação democratica da escola, da sua inevitabilidade como projeto publico, e da democracia abortada que vivemos ainda, fica sem sentido apresentar qualquer projeto que se pretenda "do bem". Educação não deve ser caridade. É direito e base da cidadania.
O "princípio justo", para pegar sua expressão, seria o seguinte então: a cada período letivo (definir este período) serão oferecidas, a TODOS os alunos, TODAS as possibilidades pedagógicas, de modo que ele não prossiga para a etapa seguinte sem dominar o mínimo estabelecido na etapa anterior.
E nesta roda de controle do desempenho é preciso envolver a família, a comunidade. Mas, jamais sem esquecer que a escola precisa ser, de certo modo, reinventada e que a aventura do conhecimento não prescinde daquilo que a humanidade acumulou ao longo desta sua caminhada.
E, por outro lado, ela também não pode prescindir do reconhecimento de que a sociedade contemporânea ainda está em estado de choque com a chegada do computador e da internete em nossas vidas. Ou seja, a aventura precisa contar com novos elementos.
Glauco,
Temos que imaginar saídas viáveis, e parar de trazer para o debate político o viés sindical que é perfeitamente legítimo e compreensível no seu âmbito próprio - as assembléias de categoria.
e gente como eu está disposta a ouvi-los. Mas é preciso deixar de lado couraças ideológicas e preconceitos. É preciso, antes de mais nada, imprimir um mínimo de objetividade ao discurso, fazendo força para articulá-lo num nível que não pressuponha no interlocutor a mesma inserção sindical e ideológica que a minha.
Prezado João e demais debatedores,
A proposta pode ser até bem intencionada e ter uma preocupação com o melhor uso dos recursos. Reconhecemos que atende aos anseios de inúmeros professores que esperam fazer seus alunos aprenderem os conteúdos escolares. Não se nega, aqui, a expectativa, enfim, que os professores ensinem bem para os seus alunos.
O problema é que essa abordagem toma como princípio um dos aspectos (se não o mais perverso) do modelo de organização da educação básica que massacra o professor.
Oi, Anarquista
Vamos tentar ir fundo nessa questão. O que significa "concordar com as posições de fundo do Glauco"? Significa ter os mesmos ideais igualitários que ele tem. E isso todos nós temos. Talvez nós não concordemos muito quanto ao que seja um "ideal". Para mim, é um horizonte que eu fixo como ideal ético para toda a humanidade. É a direção para a qual estou caminhando, e para a qual eu acho que o resto da humanidade deveria caminhar. Só que não é possível caminhar em direção nenhuma se não aceitamos o desafio de planejar nosso próximo passo. E é isso que eu acho que falta ao Glauco. O próximo passo JÁ É o ideal realizado. E aí, ele se perde, porque não consegue pensar o curto prazo. Eu acho que não é por aí. Outra coisa com a qual não concordo: a postura sindical num debate político. Se fosse para submeter uma das posturas à outra, eu submeteria a sindical à política. Eu falo isso da confortável poltrona de meus proventos como professor universitário, reconheço. Mas, desta confortável poltrona, vejo o salário dos professores como UM dos problemas a serem resolvidos. E resolvido no longo prazo, com aumentos graduais, como vêm sendo conseguidos, me parece. OUTRO problema é a reciclagem dos professores, que são na média muito ruins. OUTRO é propiciar ao aluno um ambiente minimamente adequado à transmissão do ensino. OUTRO é criar um ambiente de segurança dentro da escola. OUTRO é resgatar a relação acadêmica entre alunos e professores. Ou seja, de minha confortável perspectiva, todas essas coisas são igualmente urgentes, e demandam soluções. Eu achei a solução da secretária de São Paulo um bom passo no que diz respeito à remuneração dos professores, e acho que a prática deveria ser permanente. E consigo entender que isto não é tese que possa ser defendida por quem milita na luta sindical, mesmo no contexto de um debate político. Só que eu não posso fazer nada, nessa hora. A discussão aqui é de políticas públicas, e a perspectiva necessária das políticas públicas envolve a distribuição dos recursos públicos segundo critérios que não podem ser os sindicais. Do meu ponto de vista, a idéia de que a questão-chave da educação é o salário dos professores é falsa. É uma das questões, mas não é a única. Seria irracional encostar todo o cacife aí.
Temos que imaginar soluções que não envolvam mais recursos do que dispomos. Eu acho necessário deslocar mais verbas para a Educação, mas acho improvável que qualquer deslocamento se traduza em mudanças efetivas se não vier acompanhado de planos enxutos e objetivos de emprego dos recursos. Progressão continuada é um exemplo típico. Os professores têm toda a razão, eu acho: não deu certo porque não foi implementada. Mas não foi implementada porque é um jogo muito caro para nós. Teríamos que ter um quadro muito maior do que temos, com tempo livre para acompanhar o reforço, à tarde, dos alunos que não se saíram muito bem pela manhã. A idéia é bonita, mas não funciona, como se diz por aí. Precisamos de idéias bonitas QUE FUNCIONEM.
Anarquista Lúcida said:Oi, todos
Tinha colocado o dito abaixo na página da Luzete porque estava meio desanimada com o sectarismo que via aqui. Mas ela achou importante eu colocar aqui, de modo que aqui está. Vou preparar outro post respondendo outras coisas que vi sendo ditas pelos últimos a comentarem.
Oi, Luzete
Preferi vir aqui esclarecer o que entendo por "manter o pé no chão" -- a única coisa com que concordo com o Joao Vergílio.
Eu concordo com as posições de fundo do Glauco, mas acho que muita "falação" ideológica é contraproducente. A gente tem que levar em conta que tem os professores que tem, e que, em sua grande maioria, tem uma visao do que é ensino influenciada pelo ensino que eles mesmos receberam (pense nas interpretações que foram dadas das "fases" da Emília Ferreiro como critérios para dividir crianças em turmas na fase silábica, etc., e mesmo nas reclamações de alguns professores contra a progressao continuada nao pelas deformações que o sistema sofreu mas pela perda de um instrumento de "autoridade" sobre os alunos).
O drama dos PCN em parte decorreu disso: tentaram "decretar" uma visao de educação, como se isso pudesse se dar desse modo. Entao, tem que haver um trabalho formiguinha, a longo prazo, com os professores, tentando experiências, mudanças locais, etc. e ir ampliando isso.
Acho SEM DÚVIDA que é preciso reinventar a escola, e que é preciso que isso se dê em profundidade, questionando as políticas de educação, etc., mas é preciso tb nao esquecer que temos um "adversário" poderoso, que é exatamente esse tipo de mentalidade tecnocrática de que o Glauco fala, mas que tem muito mais adeptos do que nós...
Falo aqui nessa comunidade porque acredito que é possível ir desconstruindo essa mentalidade aos poucos, mostrando que "o buraco é mais embaixo", etc. Tentar fazer proselitismo em forma de grandes discursos só leva a perder espaço de troca. Se já pudermos mostrar que esse tipo de "soluções autoritárias e tecnocráticas" nao funciona, já está de bom tamanho... Até porque vem chumbo grosso por aí. Excluir comentário
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