Prezados,
Neste mês da ´Consciência Negra´ de 2012, para a nossa reflexão, uma mensagem do notável e mais prestigiado ator afro-americano e talvez, a meu sentir, o maior ator afrodescendente de todos os tempos.
Num vídeo de menos de 1 minuto:
https://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=BOPcy...
Mês da ´Consciência Negra´, o que acha disso? Ele responde: ridículo.
Na condição de ativista contra o racismo, defendo a destruição do conceito de ´raça humana´ e mais ainda, compreendo que somente racistas aceitam o estado patrocinando a ´raça estatal´ e as políticas públicas em bases raciais, que vulgariza e torna costumeiro o uso de critérios e causas raciais.
O conceito de ´raça´ e a prática de classificação racial dos humanos deve ser estigmatizado e repudiado, cabendo ao estado, a abstenção de sua prática.
Ao contrário do que pensam os defensores de políticas raciais, prefiro o racista constrangido e envergonhado de sua má formação e de seu defeituoso caráter.
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Antonio
Podemos até convergir em determinados assuntos, com algumas diferenças é claro. Não sei se leste o que escrevi sobre o ensino da história da África, mas se não leste vamos ao ponto.
Acho que o ensino da história da África é importante não para os afro-descendentes (neste caso o termo afro-descendente cai como uma luva), mas sim para todos os brasileiros sem distinção de origem. Porém acho que esta história não deve ser centrada na dominação européia nem na escravidão, por um simples motivo, a história da África é multimilenar, e focarmos o estudo das civilizações africanas neste dois aspectos é continuar colocando o Europeu como o protagonista principal.
Considero a miscigenação não como um assunto sociológico, mas sim um assunto de fórum íntimo, pois esquecem que a base da miscigenação nos dias de hoje é a atração entre homens e mulheres que querem ter o direito de ter como parceiro(a) aquele que lhe convém. E qualquer teorização sobre isto com intervenção, contra ou a favor, interfere num direito fundamental de qualquer um, a escolha de seu parceiro(a).
Quanto a livros como "Não somos racistas" felizmente (por relatos que escuto de outros) não tive a oportunidade de ler (e não farei com que esta oportunidade surja).
Mas voltando a que interessa é a verdadeira história da África, comprei um dos volumes da História Geral da África, são 7 volumes que retrata a história africana desde a pré-história até 1935 e na apresentação da Unesco (orgão que patrocinou este trabalho) eles dizem claro e em bom tom, que uma das origens da disminação e do racismo é a ignorância do que foi a história de África.
http://www.unesco.org/new/en/culture/themes/dialogue/general-and-re...
Por exemplo algo que o movimento negro no Brasil deveria fazer é incentivar, via o governo federal, a tradução desta obra, isto sim começaria a eliminar o eurocentrismo da nossa história.
Temos que levar em conta que o movimento escravocrata atingiu só parte da África, e que os europeus só conseguiram penetrar naquele continente depois da Grande Peste Bovina que simplesmente desorganizou todas as fortes sociedades pastoris que existiam naquele continente.
Inclusive, falando em peste bovina, vejo que é um assunto pouco conhecido por todos, historiadores tradicionais ou mesmo os marxistas. Esta peste (Rinderpest ou Cattle Plague) entrou via introdução de gado europeu na África dizimou em torno de 80% a 90% de todo o rebanho bovino africano, e povos que tinham possibilidade de resistir a invasão européia (Massais, por exemplo) estavam simplesmente reduzidos a nada.
Falo neste evento, que é pouco comentado pelos historiadores de formação européia, pois estes falam que só foi possível a colonização da África depois da chamada Conferência de Berlim (1884) que coincidentemente ocorre na mesma época (1889) em que esta peste se propaga pela África indo do chifre da África até a África do Sul em dois anos. Há inclusive um texto, que infelizmente não tive acesso de forma integral que tem um título bem instigante "RINDERPEST IN THE SUDAN 1888-1890: THE MYSTERY OF THE MISSING PANZOOTIC".
Em resumo, fatos como este não são conhecidos no Brasil, e ficam todos pensando que os africanos eram povos atrasados e que os europeus é que levaram a "cultura e a civilização moderna"!
Poderia continuar no assunto, mas no momento não tenho tempo.
Boa tarde Maestri!
Nunca gostei desse termo "afro-descendentes". Seguindo a lógica do discurso vigente, no Brasil, sobre o debate étnico/"raça", em virtude de o Brasil ser um país miscigenado, seríamos, todos os brasileiros, afro-descendentes ou, não obstante, a pele escura da negritude, os negros seriam, igualmente, considerados euro-descendentes. Isto é, eu apesar da minha pele escura [negro], ao invés de ser afro-descendente seria, igualmente, euro-descendente. Minha avó era loira/branca. Enfim, eu posso usar os dois termos para se referir a mim: afro-descendente ou euro-descendente. Como no Brasil, na real, as coisas de definem pela cor da pele, não há como fugir as definições de branco e negro e asiático e indígena.
A micigenação no Brasil, por mais que se negue, é produto de uma época, escravidão, onde mulheres negras e indígenas eram estupradas por senhores brancos. A partir do fim da escravidão o número de casamentos inter étnicos, isto é brancos e negros ou brancos e indígenas é quase inexistente: branco, não raro, casa com branca e negro casa com negra.
Sobre olivro da história da África pela Unesco, como não li, não posso opinar.
Abs.
Caro Antônio.
Aí está uma brincadeira que a natureza fez com os racistas e hoje em dia a ciência está demonstrando quanto miscigenados somos.
Só que a tua interpretação que a miscigenação ter sido só origem do estupro é parcialmente verdadeira. Desde o início da colonização portuguesa só vinham homens de Portugal, logo tanto as índias como as mulheres negras tornaram-se parceiras involuntárias ou voluntárias dos nossos amigos portugueses, entretanto quando se lê relatos do século XVI e XVII havia diversas críticas de viajantes estrangeiros contra casamentos ou amancebamentos que existiam nos mais diversos matizes.
Não podemos reduzir tudo a atos de força, pois naquela época mulheres brancas eram literalmente estupradas por seus maridos brancos a medida em que os casamentos eram arranjados entre famílias. Os preceitos morais eram outros, e conforme os mesmos relatos antes citados estes conceitos eram extremamente frouxos no Brasil colônia.
Também chamo atenção que em estados como o Rio Grande do Sul, onde a população negra é relativamente baixa, vejo um número significativo de jovens fazendo casamentos "mistos". Logo é quase uma ofensa dizer que a miscigenação ocorria SOMENTE ou GRANDE PARTE pelo estupro.
Inclusive meu caro amigo, dás um exemplo familiar, a medida que a tua avó, que segundo tuas informações era branca, e certamente o que ocorreu entre a tua avó e teu avô certamente não foi estupro!
Outro dado interessante sobre a miscigenação, há bons tempos atrás a secretaria da saúde do RGS, incluiu no teste do pezinho das crianças que nasciam em Porto Alegre exame para detectar a Anemia falciforme, doença com uma incidência muito maior em Africanos, para espanto dos médicos na época, projetando as taxas desta doença em função do número de casos, chegou-se a conclusão que 40% da população de Porto Alegre tem ascendência Africana.
Outro detalhe, durante o início da colonização, uma forma de fazer alianças entre os portugueses e índio, era o português casar com uma índia indicada pela tribo (costume também comum nas casas reais europeias!), só que como era possível a poligamia eram muitos os casamentos. Leia: Náufragos traficantes e degredados do Eduardo Bueno que tem uma boa descrição deste último costume. Tem livre na internet.
Bom dia Maestri!
Eventuais exceções não anulam a regra. E, graças a Deus, os relacionamentos, grosso modo, não se pautam pelas diferenças mas, não raro, ocorrem apesar delas.
O casamento da minha avó com um negro não era parte do paradigma da época, segunda metade do século XIX, na verdade, era, isto sim, uma quebra do mesmo.
O final do século XIX e início do século XX, no Brasil, é o período em que Nina Rodrigues, e outros, estavam entusiasmados que, com a vinda de imigrantes brancos e europeus, houvesse maior "interação" sexual [ou casamentos e afins] entre negros, indígenas e brancos. A base do branqueamento se sustentava na teoria de que em 100 anos, em virtude dessa "interação", não houvesse mais, no Brasil, negros/indígenas. Isto é, as gerações futuras iriam se "purificando" e se tornando cada vez mais brancas. É claro que a ideia de DNA naqueles tempos era impensável. O que valia era a cor. Está aí a raiz do modus operandus do racismo brasileiro. Ou seja, vale o que você aparenta ser. Ou, quanto mais claro melhor. Ou em outras palavras a cor da pele [e não a miscigenação de genes/DNA] determina se uma pessoa era/é branca ou não.
Nesse sentido, o casamento da minha avó com um homem negro, de certo modo, era até "bem vindo".
Quanto à história da África, preciso me informar melhor.
Abs.
Óbvio que havia uma ideologia racista durante a escravidão, com a qual as classes escravovocratas autojustificavam, o escravagismo que as beneficiavam. O racismo atual é um eco ideológico desse passado escravagista, engordado no século XIX, com a incorporação do cientificismo, do positivismo, eugenia e todas as ideologias que apregoavam a hegemonia ocidental, eurocentrista, para justificarem as pretensões do colonialismo nos séculos atuais.
Não cabe sofisma baseado na simplificada retórica do tipo "negro não era gente", logo "não existia". Tanto era gente e existia, que as classes escravocratas procuravam evangelizar, seus objetos inexistentes, "parte do inventário da fazenda"; nenhuma igreja evangeliza objetos ou animais. Não bastava o trabalho forçado, era preciso fazer com que o escravo aceitasse sua condição, daí a necessidade de impor ideologia hegemônica, com base na diferencição "racial", caracterizada na cor da pele.
José Roberto,
Certa feita procuram a Madre Tereza de Calcutá se ela não apoiaria uma ação contra a guerra, Ela respondeu não, mas quando resolverem fazer uma a favor da paz, me chamem.
Dia para isso e para aquilo, tudo isso é bobagem. No meu humilde entendimento, não épor aí.
Falou...
Caros Militão e Antônio.
Acho que no momento estamos caminhando numa boa direção, todos de uma forma e outra estamos olhando o racismo dentro de uma perspectiva histórica. Por exemplo, o Antônio está levantando o verdadeiro discurso oficial das décadas de 20 a 30 no Brasil, discurso este que não era meramente um discurso de branqueamento sob o ponto de vista da eliminação da cor da pele, mas sim de eliminação de tudo aquilo que culturalmente podia ser identificado como uma das contribuições da cultura negra na sociedade brasileira.
Vou tomar como exemplo algo que a muitos pode parecer periférico, mas para mim é extremamente revelador, a perseguição e a proibição da capoeira no Brasil. Pode até parecer insignificante para muitos, mas esta manifestação que era considerada algo marginal e passível de repressão policial, hoje é incorporada a cultura nacional (e mesmo internacional) não mais de forma “racial”, mas com sim dois aspectos positivos, a conservação da cultura negra e a integração da mesma a outros grupos, além de valorizar o aspecto de luta e de resistência contra séculos de opressão.
Ainda falando sobre o Brasil das décadas de 20 a 40 do século passado, vimos que só após este momento que se começa a desconstruir um discurso claro e inequívoco de supremacia “racial” do homem europeu em relação ao africano e asiático. Discurso este que era feito de forma desavergonhada, embasado num pseudo-cientifismo que existia não só no Brasil, mas em todo o mundo. Gostaria de relembrar a todos este discurso racista, oficial e aberto, não privilegiava somente os negros, havia dentro das teorias racistas e eugênicas em quase todos os países do mundo uma quase unanimidade em estabelecer a discriminação contra todos aqueles que saíam do chamado comportamento normal da época, índios, judeus, ciganos, orientais, árabes e pobres em geral, em países como o Brasil o principal objetivo eram os negros e mestiços. Ou seja, sem minimizar o racismo contra o negro no Brasil, podemos dizer que todos aqueles que não eram brancos, ricos e de confissão católica entravam nesta classificação de pessoas que deveriam ser eliminadas (não eliminadas culturalmente, eliminadas fisicamente). Chamo a atenção que a eugenia surge com Galton na Inglaterra, e o discurso eugênico era centrado contra os “pobres endêmicos”, que segundo as boas pessoas deveriam “morrer de fome” (não é força de expressão) para que por seleção natural só os mais fortes vingassem, melhorando assim a raça humana. Tomando o exemplo norte-americano, os primeiros alvos dessa perseguição eugênica foram brancos pobres que eram considerados degenerados, e para a sua eliminação foram concebidas e desenvolvidas campanhas de esterilização. Vide por exemplo o fantástico livro de Edwin Black “A Guerra contra os Fracos”, onde o espírito reinante no início do século passado onde a eugenia e a discriminação são colocadas de forma magistral e ricamente documentada.
Eu estou preparando um texto com argumentos históricos sobre um fato que é desprezado pela historiografia eurocêntrica que ocorre no fim do século XIX na África que acho de extrema importância a sua divulgação. Estou demorando por dois motivos, primeiro porque não sou historiador e segundo porque o meu motivo principal neste texto não é comprovar um fato histórico que é conhecido, mas é subestimado, o meu objetivo é mostrar como o eurocentrismo histórico simplesmente ignora a importância deste fato ocorrido na África para não tirar dos Europeus o protagonismo na colonização africana. Estou me referindo à pandemia animal que assolou a África durante as duas últimas décadas do século passado, a Rinderpest ou cattle plague.
Se alguém ainda não tem noção do que ocorreu e sugiro como uma ótima leitura o trabalho de Carlos Eduardo Martins que pode ser encontrado facilmente na rede em: http://www.lainsignia.org/2004/noviembre/cyt_004.htm.
Agora por que insisto nesta doença do gado que dizimou quase que 90% do rebanho bovino, búfalos e antílopes na África. Alguém poderia dizer que isto é pontual e não explica nada. Explica sim, pois esta pandemia animal chegou a matar mais de dois terços dos povos mais aguerridos da África com estrutura social mais complexa e mais bem organizada, exatamente os povos que faziam frente à invasão europeia e que reescreveriam a história do continente de outra forma. Acho que um dos fatores que levaram que as teorias pseudo-científicas adiante, foi uma visão do homem africano, cultuada pelas elites europeias de um continente que simplesmente não sabia se governar e por isto deveria a eles ser levada a “fantástica cultura europeia”.
Não podemos subestimar discursos como estes, que sabemos ser meros pretextos para a exploração colonial, mas a desestruturação da sociedade africana também retirou deste povo a capacidade de reescrever a sua própria história, e para se levantar de uma tragédia, a como provocada pela peste, associada à dominação colonial, atrasou sobremaneira o desenvolvimento daquele continente, retirando de todos aqueles que lá vivem ou que de lá são descendentes a autoestima de um continente, dando uma visão incorreta de incapacidade de seu próprio povo.
Militão.
Infelizmente é assim, inclusive na academia, se há dinheiro para pesquisas e outras ações, os ditos "intelectuais" (desprezo este termo porque discrimina quem trabalha em outros ramos) voam como andorinhas procurando o calor, mesmo que tenham que atravessar dois hemisférios.
Pelo program parece que a luta contra o racismo começou na década de 90 e a consciência desta luta também.
A tua última frase é lapidar, dar ênfase a soluções racistas para sustentar as lideranças (que serão os mais beneficiados com isto tudo).
PS: Quando foram citar intelectuais negros no Brasil esqueceram Milton Santos!
Bom dia Valquiria!
Grosso modo, "raça"/racismo, como construção sociológica ou não, está relacionado à cor ou a alguma característica cultural ou religiosa. Judeus, por exemplo, não obstante serem brancos sofreram com o anti-semitismo.
No mundo contemporâneo, no entanto, o quesito cor, ou, características físicas se sobrepõe. Não há na Rússia etnias diversas, isto é, todos são brancos e as várias etnias que existiam na antiga União Soviética eram todas brancas.
Desconheço, há décadas, no Brasil, a necessidade de se dizer a "raça" em qualquer formulário. Somos, no Brasil, mais sofisticados: pedimos uma foto 3/4. O que é igualmente ilegal.
O conceito de "raça", está tendo a sua volta triunfal em setores mais conservadores, deterministas e reducionistas da ciência: neo darwinismo, neurociência, sócio biologia e psicologia evolucionistas. Steven Pinker, psicólogo evolucionista, em seus livros, diz claramente que é um equivoco negar a existência de "raças".
Abs.
Bom dia!
Questões como racismo ou homossexualismo seria correto estar sabatinadas a tempos. Definir uma pessoa pela tez ou opção sexual é o cúmulo. Eis a razão de evoluirmos para um patamar que discutamos assuntos de relevância. Mas infelizmente temos que desconstruir tais preconceitos. Mostra como estamos.
Que a mais sacrossanta paz esteja convosco!
© 2022 Criado por Luis Nassif.
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