A visão fundamental da teoria de Reich está unificada em seu “A função do orgasmo” de 1929, que faz a junção da psicologia e da sociologia, indicando que a base das doenças psíquicas e das tensões sociais e do fascismo (de qualquer cor) originam-se da repressão da livre e sadia expressão das funções biológicas básicas, transformando o amor natural em mera mercadoria, explícita ou implicitamente.
Alguns conceitos básicos e alguns textos abaixo, sintetizam esta teoria:
1. A saúde psíquica depende da potência orgástica;
2. A enfermidade mental é um resultado das perturbações da capacidade natural de amar;
3. A maioria dos seres humanos sofre de impotência orgástica, pois a energia biológica está bloqueada e se converte, assim, na fonte das mais diversas manifestações irracionais;
4. A cura dos transtornos psíquicos requer, em primeiro lugar, o restabelecimento da capacidade natural de amar. Isso depende tanto das condições sociais como das psíquicas;
5. As perturbações psíquicas são o resultado do caos sexual, originado pela natureza da sociedade;
6. A energia vital, em circunstâncias naturais, tem poder de auto-regulação;
7. A estrutura caracterológica do homem atual – que vem perpetuando uma cultura patriarcal e autoritária há quatro mil anos –caracteriza-se por um “encouraçamento contra a natureza dentro de si mesmo e contra o mundo social que o rodeia”. (Reich, 1974) Esse encouraçamento do caráter é a base da solidão, do desamparo, do insaciável desejo de autoridade, do medo da responsabilidade, da angústia mística, da miséria sexual, da rebelião impotente, assim como de uma resignação artificial e patológica. Os seres humanos têm adotado uma atitude hostil quanto ao que está vivo dentro de si mesmos, do qual têm se distanciado. Esse encouraçamento não possui uma origem biológica, e sim social e econômica;
8. A formação do caráter no âmbito autoritário tem como ponto central não o amor parental, mas a família autoritária. Seu instrumento principal é a supressão da sexualidade na criança e no adolescente;
9. O não cumprimento da lei natural da sexualidade (o homem é a única espécie que não a cumpre) é a causa imediata de uma série de desastres terríveis. “A negação social extrema da vida conduz às mortes em massa em forma de guerras, assim como as perturbações psíquicas e somáticas do funcionamento vital.” (Reich, 1974);
(Conceitos básicos sintetizados por Ana Luz Francés)
“O desenvolvimento da democracia (…) significa que o caráter político irracional da vontade do povo deve ser substituído pelo domínio racional do processo social. Isso exige a progressiva auto-educação do povo em direção à liberdade responsável, em vez da suposição infantil de que a liberdade pode ser recebida como um presente, ou pode ser garantida por alguém...
... A ‘moralidade’ é ditatorial quando confunde com pornografia os sentimentos naturais da vida. Fazendo-o, eterniza a mancha sexual e arruína a felicidade natural no amor, quer tenha a intenção de fazê-lo, quer não.” (A função do orgasmo – W.Reich)
“A sexualidade entendida como uma atividade vital e natural deve ser também compreendida como um aspecto da personalidade total do indivíduo. A sexualidade é uma forma de expressão emocional, cujo contato do indivíduo consigo próprio, com seus sentimentos e sensações, o capacitam a entregar-se ao outro de maneira profunda e verdadeira...
... A sexualidade entendida como uma atividade vital e natural deve ser também compreendida como um aspecto da personalidade total do indivíduo. A sexualidade é uma forma de expressão emocional, cujo contato do indivíduo consigo próprio, com seus sentimentos e sensações, o capacitam a entregar-se ao outro de maneira profunda e verdadeira
... Os sintomas neuróticos provêm de um conflito entre as reivindicações instintivas (Id) e as exigências morais (Superego) que proíbem a sua satisfação”(Freud apud Reich, 1927, p.31)
“Para Reich, a expressão orgástica caracteriza-se no desenvolvimento concomitante de amor-afeto-sexualidade. O que ocorre em nossa sociedade impotente é que atualmente desvincula-se facilmente a sexualidade do amor e do afeto; e isto é visto como um sintoma neurótico. O homem e a mulher nasceram completos e aptos a alcançar a potência orgástica, a permitir que a energia flua, sem ser bloqueada por algum dos sete segmentos de couraças. Porém, aspectos psicossociais agem de forma a desenvolver as couraças e a bloquear esta capacidade natural. Então o ser humano apela para a pornografia, sex shops, instrumentos “a mais” (portanto, em excesso, desnecessários), para alcançar o orgasmo, o que ilustra este desvio de comportamento.”(Seminário W.Reich)
«O dano é feito aí, logo no início - exatamente antes e depois do nascimento. Aí se cria a disposição para todo o resto. O NÃO, o despeito, a recusa, a ausência de opinião, a incapacidade para desenvolver o que quer que seja. As pessoas são insípidas, inertes, indiferentes. E assim desenvolvem os seus pseudocontactos, falsos prazeres, falsa inteligência, as coisas superficiais, as guerras, etc»... (“Reich fala de Freud”)
«Mas daqui a uns quinhentos, a uns mil anos, quando rapazes e raparigas saudáveis puderem enfim proteger o amor e nele achar alegria, nada mais restará de ti do que a memória do teu ridículo.» (revista D.Quixote)
"O empesteado aparece, de ponta a ponta, como um ser contraditório em todos os níveis, desde a vivência emocional até a teorização político-social; e a peste emocional pode ser considerada, deste ponto de vista, como uma espécie de neurose coletiva da contradição. Esta contradição se manifesta com uma particular virulência e uma nocividade espetacular no domínio sexual: sobre a base inabalável da frustação, o empesteado desenvolve uma atitude dupla: por um lado, a adesão, real ou fingida, a uma moral anti-sexual rígida, repressiva, sádica (bater, castrar, cortar os cabelos, ‘cortar os bagos’, desnudar publicamente, denunciar à justiça, etc.)...; por outro lado, uma espécie de lascívia sexual, de pornografia dissimulada, vulgar ou elegante, uma confusa transgressão lateral dos tabus mais ostensivos." ( “Cem Flores para Wilhem Reich” –Roger Dadoun)
“O amor, o trabalho e o conhecimento são as fontes de nossa vida. Deveriam também governá-la.” Wilhelm Reich
E a síntese das sínteses na frase de Roberto Freire, o psicanalista:
"É o amor e não a vida o contrário da morte".