O SEQUESTRO DA ARTE
Tenho alertado em alguns debates sobre cultura que vivemos um jogo de cena, um paradoxo que, ao mesmo tempo que estimula a liberdade conceitual, os mesmos agentes ficam entrincheirados na rigidez técnica entre o minimalismo e o classismo. Circula pelo mundo uma vultuosa soma financeira que abriga bem mais do que o afortunado mundo de uma certa celebridade culta, mas acima de tudo uma tática de mapear e neutralizar o próprio ambiente crítico da arte como num jogo de espelhos, desses que chegam às nossas cidades em parques temáticos.
Há em tudo isso um bem traçado plano de domínio de pequenos grupos interligados a um só comando que no Brasil ganhou força nessa última década, as instituições, as curadorias que se fazem maiores do que a arte, sequestrando todo o seu ambiente, seja nas universidades, nas instituições ditas culturais. O sincronismo dessa metodologia que cada vez mais ganha espaços no Brasil, está impregnado de um vício que nem mais a arte popular escapa. Tudo depende do crivo deste mesmo universo e, com isso, vem produzindo no Brasil um dos piores ambientes para as expressões artísticas contemporâneas, o que nos dá uma falsa impressão de que não há nada de novo numa arte hoje marginalizada.
É nessa lógica que seguem as críticas muito bem fundamentadas de Afonso Romano de Sant'Ana. Ele traz à luz o ambiente promíscuo das falácias retóricas que o discurso da arte conceitual trouxe ao século XX a partir de Marcel Duchamp, que eclode no enígma do vazio representado pela última bienal de São Paulo. Suas colocações são absolutamente pertinenentes. Espero, sinceramente que elas tragam uma investigação de todo o contexto que essa invisível forma de cooptação de um mercado fabricado pela ilusão da publicidade que artificializa conceitos sem o menor compromisso com a produção da arte dentro do Brasil. O mesmo ambiente que abre todas as portas para o famoso, tudo é arte, trabalha com uma rigidez que classifico como praga do sinfonismo cienticista e tem provocado dentro das orquestras sinfônicas, profissionais e amadoras, verdadeiros levantes e insurreições de músicos contra maestros por não suportarem mais a carga de exigências psíquicas e atléticas para apresentar resultados de superioridade técnica e assim, justificar a expansão da máfia das batutas, a mesma que avança pelo interior do Brasil destruindo instituições centenárias como as bandas de música com repertórios próprios e a impingir um sinfonismo rastaquera que resulta simplesmente no apuro de técnicas, sem levar em conta o próprio sentido da arte que é a sua criação, ou seja, estamos vendo o mesmo grupo institucional dominar todo o ambiente cultural do Brasil, e se ele não tem nome, com certeza tem sobrenome, basta uma simples investigação. No lugar do folclore, o para-folclorismo, grupos formados artificialmente dentro de instituições patrocinadas com o dinheiro público em substituição às manifestações concretas da sociedade, pior, com uma visão estrativista em que vão às comunidades, gravam, filmam as suas manifestações em troca simplesmente de visibilidade.
Estou levantando essas questões para que sejam debatidas livremente aqui e que, palmo a palmo, esse caminho perigoso seja discutido de forma corajosa e transparente pelos meus amigos desta comunidade.
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Preparei um cartão coletivo para os amigos da Comunidade, principalmente para os que gostam de boa música. Um ótimo 2009 pra você e família.
Clique aqui, aguarde o carregamento e siga as instruções.
Abraços.
antonio celso lopes da costa.
celso3tn@terra.com.br
Vi o post da Laura e vim parabenizá-lo. Pena eu ter perdido o programa, mas vi os vídeos que ela colocou e adorei.
Abraços.
Já está na minha agenda sua apresentação na próxima sexta no Instrumental Sesc Brasil. É um programa que curto muito e sempre gravo os que gosto mais. E o seu é claro que gravarei.
Abraços.
Laura.
Parabéns por sua performance no Programa Instrumental Sesc Brasil. Uma maravilha!!! Fiquei encantada com seu trabalho autoral e de músico.
Valeu!!!
Abraços .
Laura Macedo.