"a utilização de energia é um elo fundamental da cadeia energética, no qual necessidades, tecnologias e fontes jogam um papel crucial na definição do consumo de energia"
A energia é uma propriedade da matéria que se manifesta de diversas formas: energia mecânica (trabalho); energia térmica (calor); energia das ligações químicas (química); energia das ligações físicas (nuclear); energia elétrica e energia das radiações eletromagnéticas.
A energia pode ser utilizada para satisfazer uma série de necessidades: iluminar e obter condições ambientais adequadas ao bem estar humano; transportar pessoas e mercadorias; transformar matérias primas em produtos; cozinhar e preparar os alimentos; aquecer ou resfriar a água para o uso doméstico; enviar e receber informações; enfim, um sem número de necessidades que vão desde aquelas ligadas à produção até aquelas ligadas ao lazer.
Contudo, a energia não satisfaz essas necessidades diretamente. Nós não bebemos gasolina ou tomamos banho com querosene, também não comemos carvão ou sentamos sobre um barril de petróleo e ele sai nos transportando por aí; tampouco colocamos o dedo na tomada e recarregamos a energia perdida no dia a dia.
De fato, precisamos que a energia esteja em uma dada forma que satisfaça as nossas necessidades. Se o problema é iluminar, precisamos de energia na forma de radiação eletromagnética; se o problema é cozinhar, precisamos de energia térmica (calor); se a questão é o transporte, necessitamos de força motriz, ou seja, energia mecânica (trabalho); e assim por diante. Desse modo, não consumimos diretamente a energia, na verdade, a utilizamos em equipamentos, aparelhos, máquinas e dispositivos que têm a função de converter a energia que é colocada à nossa disposição pelo mercado naquela forma que necessitamos.
Assim, precisamos do motor a combustão interna que irá converter a gasolina, na qual a energia se encontra na forma de energia química, em energia mecânica (força motriz) que irá mover o carro e, portanto, irá satisfazer as nossas necessidades de transporte. Vamos precisar do fogão e do aquecedor para converter a energia química que está contida no gás em energia térmica e assim obter o calor necessário à cocção e ao aquecimento de água. Precisamos, também, dos aparelhos de ar condicionado e das geladeiras que irão converter a energia elétrica em energia mecânica e através dos compressores vão fornecer o frio que necessitamos; da lâmpada para converter a energia elétrica em radiação eletromagnética e, portanto, na luz para iluminar os ambientes; enfim, um amplo conjunto de dispositivos e, por conseguinte, de tecnologias de uso, que irá converter a energia final – aquela que está contida nas fontes de energia colocadas à disposição do usuário final – em energia útil – aquela energia que se encontra na forma adequada à satisfação das necessidades finais de energia. À conversão da energia final em energia útil, nós chamamos de utilização de energia.
Dessa forma, de um lado temos as necessidades energéticas de energia útil, de outro a energia final que é colocada a nossa disposição, e, fazendo a mediação entre elas, a tecnologia de utilização de energia.
Em função disso, quando pensamos em consumo de energia devemos ter sempre em mente esse tripé: necessidades, tecnologias e fontes.
Podemos reduzir o consumo atuando sobre cada um desses elementos.
Quando deixamos de usar o transporte individual e passamos a usar o transporte coletivo, reduzimos a necessidade energética e, por conseguinte, o consumo de energia final.
Quando modificamos a matriz industrial e privilegiamos setores menos intensivos em energia, também reduzimos, ao fim, a necessidade energética e, portanto, o consumo final. Sendo que, o mesmo acontece, quando incentivamos os serviços em detrimento da indústria.
Quando construímos prédios mais inteligentes, que utilizam mais iluminação e ventilação naturais, mais uma vez, estamos reduzindo as necessidades energéticas e, logo, o consumo.
Tecnologias mais eficientes também contribuem para reduzir o consumo. Lâmpadas, motores, caldeiras e fornos com maiores rendimentos na conversão da energia final em energia útil apresentam como resultado final a redução do consumo de energia. Para se ter uma idéia da longa trajetória tecnológica de melhoria dos conversores de energia, basta lembrar que as primeiras máquinas a vapor na Revolução Industrial, no século XVIII, tinham um rendimento de 1 % e, hoje, as máquinas térmicas podem ultrapassar a casa dos 50 %, como é o caso de uma central elétrica de ciclo combinado.
Pelo lado das fontes, também existem fontes mais eficientes do que outras. A passagem da lenha e do carvão para os derivados de petróleo e para a eletricidade representou uma melhora significativa no rendimento do nosso tripé que, ao fim e ao cabo, representou uma redução relativa do consumo final energético para atender as mesmas necessidades.
Por isso, meus amigos, quando falamos em redução do consumo de energia devemos sempre ter em conta o conjunto de elementos que compõem este consumo.
A tecnologia tem sido o fator mais decisivo na redução do consumo de energia ao longo da história. Por outro lado, o aumento explosivo das necessidades energéticas, fruto da imensa ampliação da gama de serviços e produtos que utilizam intensamente a energia para melhorar o conforto e o bem-estar da humanidade, se constitui no item que mais pressiona o consumo final energético.
Por isso, não é à toa que, por um lado, a política energética dos Estados Unidos sempre apostou na inovação tecnológica para se manter o padrão de conforto sem aumentar o consumo de energia e, por outro, os países desenvolvidos se preocupem com a incorporação das populações dos países emergentes no uso da energia, o que representaria um baita salto nas necessidades energéticas da humanidade e, por conseguinte, um tremendo aumento no consumo de energia.
Assim, a utilização de energia é um elo fundamental da cadeia energética, no qual necessidades, tecnologias e fontes jogam um papel crucial na definição do consumo de energia.
Contudo, para se entender a relação entre a utilização de energia e os recursos naturais é preciso estabelecer as interdependências existentes entre essa utilização e os demais elos da cadeia energética: transformação e produção de energia.
E isto, meus amigos, fica para um próximo post.
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