Por Edmar de Almeida, do
Blog Infopetro
O debate eleitoral em vigor no Brasil tornou pouco claro para a população em geral a relevância e as conseqüências do recente processo de capitalização da Petrobras. O calor do debate eleitoral levou as discussões para alguns temas controversos da operação de capitalização, que não necessariamente eram os mais importantes para determinar o sucesso ou o fracasso da mesma. O debate em torno da capitalização da Petrobras foi dominado por duas questões principais: i) as conseqüências de um eventual aumento da participação do Estado brasileiro no capital da Petrobras; e ii) o nível de transparência quanto aos critérios de definição do preço do barril do petróleo.
As vozes críticas ao processo de capitalização sustentaram até o final que uma elevação da participação do governo no capital da Petrobras iria contribuir para piorar o nível da governança corporativa, com o aumento da interferência política na empresa. Ao mesmo tempo, o governo estaria comprando esta maior participação mais barato que os acionistas minoritários. Isto ocorre porque que o governo estaria pagando sua parte das ações com 5 bilhões de barris de petróleo valorados arbitrariamente a US$8,51, um preço acima daquele que seria preço considerado justo.
Apesar das suspeitas acima, podemos dizer que o processo de capitalização da Petrobras foi muito bem sucedido. Esta capitalização somou um total de R$ 120,2 bilhões. Deste total, R$ 74,8 bilhões correspondem às ações emitidas para pagar os 5 bilhões de barris adquiridos via Cessão Onerosa. O restante de R$ 45,2 bilhões corresponde a novos recursos para serem investidos pela empresa.
A injeção de novos recursos na companhia era considerada fundamental para viabilizar o plano de investimento da mesma. O plano de negócios da companhia 2010-2014 prevê um valor de US$ 58 bilhões em termos de captações líquidas. Este valor corresponde à soma do montante arrecadado no processo de capitalização e o aumento da dívida da empresa. Sem uma capitalização importante, a Petrobras não teria margem para aumentar seu nível de endividamento. Nos últimos anos, o nível de endividamento da Petrobras tinha aumentado com a aceleração do ritmo dos investimentos e já tinha atingido o teto aceitável para uma empresa avaliada como “investment grade”.
Como explicar o inegável sucesso da operação de capitalização da Petrobras? Inicialmente, é importante ressaltar que as descobertas de petróleo da área do Pré-sal fizeram do Brasil a principal área de expansão da indústria petrolífera mundial fora da OPEP. Ao mesmo tempo em que a Petrobras tem uma posição privilegiada no Pré-sal, as empresas internacionais de Petróleo de capital aberto, que disputam com a Petrobras os recursos dos investidores, vêm enfrentando muitas dificuldades para terem acesso a reservas de petróleo em condições econômicas aceitáveis. Por esta razão, não está fácil encontrar uma empresa de Petróleo para investir com um bom prognóstico de crescimento da produção de petróleo.
O contexto atual do mercado financeiro mundial, caracterizado por baixo nível da taxa de juros e um fraco desempenho das economias centrais também contribuiu muito para o sucesso da operação. Neste contexto, os grandes fundos de investimento internacionais não encontram boas opções de investimentos no mercado de capital dos países centrais. O Brasil é visto como uma excelente oportunidade quando comparado com as outras opções. No Brasil, certamente um dos negócios mais promissores a médio e longo prazo é a Petrobras.
Dado o exposto acima os investidores foram pragmáticos e aceitaram o risco do negócio. Estes investidores estão apostando que a boa governança corporativa da empresa não irá alterar significativamente porque o governo agora reforça um controle acionário que já detinha. Da mesma forma, estão calculando que o importante não é o preço dos 5 bilhões de barris de petróleo da cessão onerosa, mas o baixo preço dos mais de 20 bilhões de barris do pré-sal que continuaram no regime de concessão atual.
(...) continua no Blog Infopetro.
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