Sabe como eu faço frango caipira? Vou lá no meu quintal, corro atrás dele até conseguir pegá-lo, depois torço-lhe o pescoço. Ou corto o pescoço e recolho o sangue para fazer ao molho pardo. Assim, tenho certeza sobre a procedência e a saude do galináceo. Um leitãozinho também é bom.
Ah, sim. Na minha infância vi muito frango ser morto assim, em Dom Pedrito, interior do RS. De fato, é a melhor forma de ter certeza que é caipira. E o bicho sofre nadinha, pois passou a vida como sempre quis, ciscando no quintal, na fazenda, seja lá onde for, e morreu com o pescoço torcido, na hora, de um só golpe, sem sofrimento. Leitãozinho também é muito bom. Igualmente criado solto, com seu chiqueiro à disposição. Não bastasse o animal ter uma vida digna, o sabor da carne é incomparavelmente melhor.
Na minha infância, o frango que acompanhava o macarrão dos domingos muitas vezes era colhido no quintal. Também eram colhidos os ovos. Para esta finalidade primeira se mantinha o galinheiro no fundo do quintal; colher ovos frescos, de gemas coradas, para bolos, fritadas, doces e biscoitos.
As boas poedeiras se preservava, as más e os frangotes iam sacrificados para a panela. O plantel se renovava no aviário do bairro, onde revendiam aves vivas, ou as abatiam na hora, provenientes de sitiantes dos arredores da cidade. Era uma cena comum avistada em grandes cidades brasileiras, até os anos 1960, nos seus subúrbios e mesmo em bairros perto do centro, em que fossem numerosas as casas com quintais.
Bem, o "turismo" do frango até às mesas é bastante mencionado, nos estudos de economia energética e ambiental. Alguns trabalhos estimam que um frango viaja, em média, no EUA e Canadá, mais de dois mil kilômetros para chegar na mesa do consumidor. Esses pesquisadores não sabem da saga dos frangos brasileiros, que dão volta ao mundo, para alimentarem pessoas na Arábia, na China, no Japão e pelo mundo a fora.
Nessas viagens é gasto energia para deslocar e refrigerar o frango para sua preservação, fora aquelas gastas na produção de seus alimentos, na sua criação e no balcão refrigerado dos supermercados. Pesquisadores estimam que, para cada duas calorias que ingerimos, uma vem do petróleo. Essa industrialização intensiva, da produção a distribuição, movida pela lógica do capital é que dá a consistência de nossos alimentos; uma comida dependente de petróleo não pode ter, outra consistência que não seja de plástico.
Obrigado pelas dicas culinárias. Trocaremos receitas. Um beijo.
Sim, essa viagem que a nossa comida faz é cada vez mais inconcebível. Não dá pra comprar comida que tenha um custo tão alto de petróleo. Mas cresce a consciência de consumir produtos da sua cidade, da sua região, no mínimo do seu Estado. Chefs de cozinha colaboram bastante neste movimento. Gosto muito do trabalho da Neka Menna Barreto, de são Paulo, ela diz: "Valorizar produtores locais é uma forma de ajudar a nossa cidade e as pessoas que vivem perto da gente. A feirinha de orgânicos do Brique de Porto Alegre pra mim é a feira mais bacana da América! Estudei o Slow food e gosto da ideia de comidas que venham no máximo de um raio de 2km de onde a gente vive. É mais responsável. Aqui em São Paulo eu participo bastante da feira da Água Branca, onde compro minhas verduras orgânicas produzidas na região de São Paulo. Adoro incentivar os pequenos agricultores, que muitas vezes são a 7ª geração de famílias que trabalham com a terra, sem agrotóxico, acho maravilhoso!". Nos EUA tem o movimento From farm to table. Restaurantes e chefs dos mais badalados de Nova Iorque correm atrás de produtores responsáveis que se espalham às margens do rio Hudson para comprar orgânicos e carnes de gado, aves e peixes livres de hormônios e antibióticos. Grandes redes de supermercados, como a Wholefoods, também seguem o movimento. Aguardo receitas, N Almeida, e hoje vou postar umas saladas aqui no blog do Nassif. O calor no Sul já se instalou. Abs.
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