Por que será que todo filme de sua autoria( Kubrick) me deixa arrasado? Ontem vi “Born to Kill” no HBO e nele o cineasta consegue retratar o Vietnan de uma forma bem mais pungente que Oliver Stone.
A cena em que a prostituta se recusa a transar com negros devido a considerá-los superdotados é a descrição completa do último protesto antes da servidão humana completa, numa relação abjeta tendo como ponto central o poder de compra e da sobrevivência.
E o final impressionante no qual o esquadrão de Marines, ao não atender o pedido da franco-atiradora, vive a noção de que a vida, ou o que resta dela, pode ser um sofrimento infligido bem pior do que a morte.
Ontem foi a grande noite da TV a cabo para esse assistente solitário que aqui vos digita, que ao se sentir um deer spectator, viu coisas fantásticas como “Anjos & Demônios”, “Born to Kill” e o segundo episódio de “Taken”(Spielberg), além da estréia de “Pacific”(também Spielberg), que, pelo visto, vai dar o que falar no meu círculo restrito de admiradores do poderio militar.
A recriação da história do desembarque em Guadalcanal está fiel ao relato histórico das divisões “Marines” envolvidas e deixa de lado todo o Hollywood side dos filmes de guerra, mostrando neuroses, psicoses, falhas e tudo o mais que possa atingir nossa humilde condição de vivos por suficiência biológica.
O resgate do Soldado Ryan já havia demonstrado que Spielberg se mostra um sucessor total de Kubrick nesses quesitos envolvendo neuroses e fraquezas. Os dois realizadores estão para o cinema da mesma forma que Paul Carell e Jean Lartèguy estão para o romance histórico.
Carell é o autor de dois livros básicos para a compreensão do caráter militar alemão na segunda guerra- “Afrika Korps” e “Aí vem Eles”(“Sie Kommen”). Neles, a ideologia nazista é posta em segundo plano e o caráter prussiano do “drill” é colocado em evidência, principalmente na história do Major Bach(“O Pastor do Purgatório”) e do artilheiro Gunther Holm, condecorado por ter escapado de uma granada de 75mm que lhe passou entre as pernas e explodiu quatro metros atrás dele.
Já Lartèguy conta cruamente a história do Sexto batalhão de Paraquedistas Coloniais de La Armèe Française e seu comandante, o Cel. Bigeard em “Lê Pretoriens” e Lê Mercenaires”, tanto na Indochina (Dien Biem Phu)quanto na batalha de Argel- da qual existe um dos grandes filmes dos anos 60. Bigeard foi o soldado mais condecorado de toda a história militar francesa e, para alguns, suplantou Napoleão em tática e estratégia. Por inveja, nunca foi promovido a General, já que , depois da batalha de Argel, escreveu um relatório no qual dava como perdida a Guerra na Argélia, da mesma forma que os Franceses perderam a Guerra na Indochina. Só não foi levado a corte marcial devido a ser um herói popular e admirado por De Gaulle, que passou a mão por sua cabeça , batendo de frente com a Organização do Exercito Secreto( leia-se Raoul Salan), facção militar que desejava a continuação da guerra no norte da áfrica. No cinema, sua história em Dien Biem Phu foi representada por Anthony Quinn num filme do qual eu não me lembro o título.
Quem acompanhar na HBO o “Pacific” pode ter a certeza que vai acompanhar um dos grandes seriados de história militar já realizados. Eu garanto.
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