Ilustração do "The Wall Street Journal" de 29/03/2010Ilustração do "The Wall Street Journal" de 29/03/2010

Faz me lembrar Cazuza: “Aquele garoto que queria mudar o mundo e hoje assiste a tudo em cima do muro”... De mãos dadas com os tucanos, claro.


Por Ana Helena Tavares* (para o "Observatório da Imprensa")

Na quarta-feira, 31 de Março, Miriam Leitão que, já há algum tempo, por méritos reconhecidos, ganhou de alguns a alcunha de “a jornalista do apocalipse”, mostrou-se preocupadíssima com uma possível saída de Henrique Meirelles do Banco Central, pois, assim, alertou a profeta em sua coluna de “O Globo”, “o BC ficaria sem qualquer economista que tivesse passado pelo mercado”. A profecia não se cumpriu e Meirelles ficou.

Ainda bem, porque, segundo a coluna, que trazia o título de “BC estatal”, palavrinha que causa ojeriza às elites, esta saída não poderia ocorrer em pior hora, pois “é necessário começar um ciclo de aperto na política monetária”. Faltou à sempre tão bem informada colunista ler o “The Wall Street Journal” de dois dias antes. Tivesse se dado ao trabalho de, ao menos, ler a capa do respeitado diário americano, que leva o nome da rua considerada o coração financeiro do mundo, talvez chegasse, ainda que com algum esforço, à conclusão de que os parafusos que ela sempre acha que faltam em nossa economia estão muito bem “apertados”, obrigado.

Para o “The Wall Street Journal” de 29 de Março, “todos os dias os brasileiros estão tão ocupados comprando carros, máquinas de lavar e TVs planas que nem perceberam os efeitos da crise econômica pela qual o mundo passou.”

Recentemente, o diário britânico “The Guardian” foi mais longe, apontando a saúde financeira do Brasil como motivo para o favoritismo de Dilma: “Analistas que descartavam Roussef, agora sugerem que ela é a favorita para vir a comandar os rumos de uma economia crescente”, disse o jornal em sua edição de 14 de Março.

Como se vê, o paradoxo entre o que dizem nossos analistas de salão com sua visão apocalíptica e a visão otimista dos mais especializados veículos da imprensa internacional é da ordem do absurdo. Faz me lembrar o dia em que passei por um curso de idiomas, cuja fachada é totalmente pintada com as cores dos Estados Unidos, com direito à Estátua da Liberdade estilizada, e notei que a atendente vendia cursos de inglês trajando uma camisa com o rosto de Che Guevara, com direito a uma pequena bandeirinha de Cuba na lapela. Quando aparecem na TV, geralmente trajam preto, cor apropriada, mas sabe-se lá a roupa que os jornalistas de nossa grande imprensa usam no sofá de casa.

E os paradoxos não param por aí. Para quem não sabe, Miriam Leitão, que eu apelidaria de “a economista dos números sem contexto”, foi militante de esquerda, chegando a ser presa. Só falta assumir o lado.

Os velhos barões de nossa mídia sabem bem que o pior e mais penetrante autoritarismo é o que se disfarça de democracia. Enquanto isso, “para o ‘país do futuro’, chegou finalmente o amanhã”, lêem nas bancas de Wall Street economistas que sabem muito bem o que é mercado.


*Ana Helena Tavares é jornalista por paixão, escritora e poeta eternamente aprendiz. É colunista da revista "Médio Paraíba" e editora-administradora do blog "Quem tem medo do Lula?".

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Comentário de J. R. Messias em 6 abril 2010 às 19:30
Não sei quem fez essa afirmação mas é sempre pertinente: "não há nada pior que esquerdista arrependido".
Comentário de Paulo Roberto Stockler em 6 abril 2010 às 22:53
postado no twitter e no Facebook.
Ótimo artigo!!!!

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