Quando eu crescer, vou querer ser adotado por uma família brasileira, assim como o menino Sean Goldman, de 9 anos.
Veja só: a familia brasileira conseguiu driblar duas vitórias na Justiça, que determinaram que o menino fosse devolvido a seu pai biológico. Agora, a família obteve uma sentença favorável Supremo Tribunal Federal até que o caso tenha uma solução final.
Do ponto de vista diplomático, o caso já provocou gestões do governo americano contra o Brasil.
A última novidade é que em retaliação pela atitude da Justiça o Congresso americano decidiu retaliar e suspendeu a votação que estende por um ano um programa de isenção tarifária que beneficia exportações brasileiras para os EUA. Como explica Sérgio D’Ávila, na Folha, a medida atinge 10% das vendas do Brasil para aquele país, ou cerca de US$ 3 bilhões.
O mais curioso é que essa notícia — que equivale a uma retaliação comercial — é tratada como questão secundária. Imagine se fosse — digamos assim — uma ação do MST que estivesse prejudicando nossas vendas para o exterior. O Brasil rico, chique e influente estaria pronto para declarar guerra a nossos acampados e pedir prisão para seus líderes, não é mesmo?
Não acho que a economia é tudo na vida. Eu acho que o país poderia sofrer retaliações dez vezes maiores e enfrentar pressões de todo tipo — se estivesse com a razão. Não está. Vivemos num mundo onde os laços de sangue definem as relações familiares, formam nossa personalidade e nossa realidade afetiva. Todo esforço para manter Sean longe de seu pai biológico é uma ação equivalente a sequestro — por mais que essa palavra seja forte e dolorosa num caso onde todos sabem que afeto e carinho estão presentes, por mais que o próprio menino tenha criado relações afetivas com a família adotiva.
Vamos combinar: com essa atitude da família brasileira, o pequeno Sean Goldman está recebendo um curso prolongado daquilo que a nossa sociedade tem de pior — a prepotência, a arrogância, a impunidade de quem chora menos porque pode mais.
(grifos meus)
http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite
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